O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) é um dos poucos trunfos que a região da Guarda possui para induzir um desenvolvimento económico que supere a atual mediania. Não faz, por isso, qualquer sentido que câmaras municipais do distrito procurem parcerias com outros estabelecimentos de ensino superior sem envolver o IPG.
As duas que dão pior exemplo são, por infortúnio, as da Guarda e de Seia, precisamente as que têm cursos do IPG a ser ministrados no seu território.
Na Guarda, a Câmara anunciou a promoção de formações na área da gestão cultural a serem ministradas nas suas instalações por professores de uma fundação belga. Nada contra trazer conhecimento e cultura estrangeira para a Beira Alta – pelo contrário! Mas o bom-senso político devia ter levado a Câmara a envolver o IPG na oferta formativa desta formação de nível superior e a promover que as atividades se realizassem nas suas instalações.
Faz algum sentido dar aulas nas salas de uma Câmara? Faz algum sentido ignorar a instituição de ensino superior que mais contribuiu para o desenvolvimento da cidade e da região?
O caso de Seia é talvez pior. O IPG tem lá a sua Escola Superior de Turismo e Hotelaria a funcionar, o que lhe exige enorme esforço financeiro, mas a Câmara de Seia quase nada ajuda. Enquanto que em Idanha-a-Nova, por exemplo, o município paga a água, luz e gás da Escola Superior de Gestão para ajudar o Instituto Politécnico de Castelo Branco a mantê-la lá, em Seia nada disso de passa.
Agora o presidente da Câmara de Seia – que, ainda por cima, é presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela – foi propor parcerias e colaboração a escolas do Instituto Politécnico de Coimbra. Fê-lo no domínio das “smart cities”, uma matéria em que, por sinal, o IPG tem reputação nos capítulos das comunicações móveis, da mobilidade rodoviária e da eficiência energética.
O mal não está em falar com Coimbra, como é óbvio. O erro está em ignorar uma instituição que tanto beneficia o seu concelho em detrimento de outros.
Têm sido notícia nos últimos meses as iniciativas com que o IPG, presidido por Joaquim Brigas desde o início do ano, tenta ultrapassar anos de conformismo, de fecho de cursos e de perda de alunos. Parcerias com centros de investigação, com empresas e com outras instituições de ensino têm sido notícia – e são sinais positivos de quem tenta relançar o ensino superior na Guarda. É incompreensível haver câmaras que se alheiem deste esforço. E que o desprezem.
* Dirigente sindical