Para aludir à campanha eleitoral que já decorre, aqui se apresenta uma cantiga lírica de Luís de Camões:
Candidato* é mais formoso
Para mim, que a luz do dia;
Mas mais formoso seria
Se não fosse mentiroso.
Hoje o vejo piedoso,
Amanhã tão diferente;
Que sempre cuido que mente.
Prometeu-me ontem de vir,
Nunca mais apareceu.
Creio que não prometeu
Senão só por me mentir.
Faz-me, enfim, chorar e rir:
Rio quando me promete,
Mas choro quando me mente.
Governante* me mentiu
Muitas vezes, sem ter lei,
E todas lhe perdoei,
Por uma só que cumpriu.
Se, como me consentiu
Falar-lhe, o mais me consente,
Nunca mais direi que mente.
* No original, “Catarina”, nome que o autor renascentista, por tara, chamava aos que se dedicavam à causa pública