Construir a Europa

1. Há dias, enquanto conduzia, distraidamente, ouvi na rádio Rúben Carvalho (PCP) e Jaime Nogueira Pinto (intelectual pró-fascista de extrema direita) convergindo em tudo no ataque à própria existência da União Europeia – supostamente Ruben Carvalho está nos antípodas de Jaime Nogueira Pinto, mas sobre a Europa aparentemente eles pensam o mesmo. Os extremos tocam-se! Mesmo! E há que ter isso em conta no momento de votar. Ou antes, inclusive, no momento de escolhermos votar ou abstermo-nos. No momento de escolhermos estar com os extremistas que querem destruir a Europa ou estar com aqueles que, mesmo identificando defeitos, e muitos, à União Europeia, preferem defender as muitas conquistas conseguidas, nomeadamente o extraordinário espaço de liberdade, democracia, paz e desenvolvimento. Por isso, votar nas próximas eleições tem de ser uma forma de ser partícipe no progresso europeu. Não votar será estar com o comunista ortodoxo Ruben de Carvalho ou com o pró-fascista Nogueira Pinto é ficar lá atrás, parado no tempo inexorável e ser contra a mudança, contra o futuro e contra a coesão europeia – a construção da Europa das Nações não pode parar (com ou sem Brexit).
2. A semana passada encontraram-se em Vilar Formoso sindicatos e empresários, portugueses e espanhóis, para protestarem contra as portagens nas autoestradas (ex-Scut). A mobilização ficou aquém das expetativas porque estranhamente todos achamos um roubo ter de pagar portagens caras, mas quando se trata de protestar e levantar a voz contra a cobrança indevida desta taxa (por falta de alternativas) as pessoas ficam em casa à espera que outros lutem pela abolição. As antigas Scut foram financiadas por fundos comunitários precisamente com o objetivo de promoverem a coesão territorial e contribuírem para o desenvolvimento das regiões periféricas.
Como bem sabemos, quando um imposto ou uma taxa são aplicados, tarde ou nunca serão abolidos. Não há volta atrás. Por isso, em 2011, antes da implementação das portagens nas antigas Scut, apresentei uma petição subscrita por mais de quatro mil pessoas e fui à Assembleia da República defender a não introdução de portagens. Falei aos deputados (que obviamente não ouviram nada do que eu disse) sobre os prejuízos que iriam infligir à economia do interior do país, do aumento de assimetrias ao consequente despovoamento, dos custos acrescidos de viver no interior à falta de oportunidades… Infelizmente, e apesar das mais de quatro mil pessoas que me apoiaram assinando a petição, fui sozinho reivindicar algo que nos deveria preocupar a todos (também lá esteve, com o mesmo intuito, a Comissão de Utilizadores, ligada à CGTP, e que, apesar de muito politizada, defendeu e mantém essa luta quase sozinha). Passados oito anos, e reconhecendo o meu completo fracasso nessa luta, cada vez mais acho absurdo que tenhamos de pagar, e tenhamos de pagar tão cara, a utilização da autoestrada, em especial a A25, que deveria ser um corredor para o desenvolvimento, para a Europa. Por isso, continuo a aplaudir aqueles que continuam a defender a abolição das portagens – ainda que a maioria, quando os convidei a irem comigo à Assembleia da República não tenham considerado oportuno.
Sem a mobilização massiva das pessoas, dos utilizadores, dos cidadãos, o Estado centralista nunca irá abdicar dessa renda extraordinária. Mas as empresas e os cidadãos do interior não podem calar perante um custo tão elevado, a todos os níveis. Temos de reinventar formas de protesto que possam ser ouvidas pelos decisores. E temos de exigir a tomada de posição de forma clara aos partidos políticos e aos deputados, que entre a disciplina partidária e a falta de protagonismo, sempre se escondem nas brumas do silêncio. Discutir a Europa, nestas eleições, também deveria ser discutir as ligações à Europa, a coesão territorial da Europa e o desenvolvimento das regiões periféricas. Infelizmente os nossos candidatos querem ir para Bruxelas de avião e não terão de pagar portagens.

PS 1: Entretanto, a Alta Velocidade espanhola já chegou a Salamanca (70 minutos separam-na de Madrid). E o Estado espanhol está a lançar o concurso para a construção da linha ferroviária de alta velocidade até à fronteira portuguesa!

PS 2: A autovia de Fuentes de Oñoro a Salamanca é gratuita. E enquanto Portugal consignou a empreitada da construção da ligação da A25 a Espanha, o país vizinho está a terminar as obras de ligação da A62 a Portugal. Dois a três anos de atraso. E os partidos e os políticos nada dizem, nem quando falamos de integração europeia!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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1 comentário

  • Nogueira Pinto não é “pró fascista”. É sim um académico e intelectual nacionalista, subsidiário do integralismo lusitano e de um conservadorismo católico de feição maurrasiana.