A última reunião da Câmara da Guarda presidida por Álvaro Amaro ficou marcada pela aprovação, por maioria, das contas de 2018. O presidente disse-se «orgulhoso» da recuperação financeira do município, mas para os socialistas, que votaram contra, a gestão da maioria tem sido «incapaz de atrair investimentos, empresas e pessoas», num concelho que «continua a afastar-se do desenvolvimento».
Álvaro Amaro presidiu pela última vez à reunião do executivo da Câmara da Guarda na segunda-feira e despediu-se com a aprovação, por maioria, com os votos contra dos socialistas, da Conta de Gerência de 2018 do município. O autarca suspendeu o mandato esta quarta-feira, dia da entrega da lista do PSD às europeias no Tribunal Constitucional. Carlos Chaves Monteiro é agora o presidente em exercício, enquanto Cecília Amaro, atual adjunta do presidente, assume funções de vereadora.
No final da sessão, Álvaro Amaro adiantou aos jornalistas que esta saída antecipada – inicialmente tinha previsto suspender o mandato na reunião de 22 de abril – se deve a «imperativos da lei», segundo a qual «logo que a candidatura dê entrada no tribunal estarei legalmente impedido de desempenhar o cargo». Não poderá, por isso, participar na Assembleia Municipal de segunda-feira enquanto presidente da Câmara, pelo que já solicitou à presidente Cidália Valbom a possibilidade de intervir na sessão «no período de antes da ordem do dia ou no final», acrescentou. Para o vereador do PS Eduardo Brito, com a suspensão do mandato de Álvaro Amaro, começará esta quinta-feira «um ciclo político novo» na Guarda. Mas em dia de prestação de contas o ainda presidente admitiu que está «orgulhoso» dos números e da situação financeira que deixa.
«A dívida da Câmara baixou 19 por cento relativamente a 2017, ou seja 4,6 milhões de euros. Não contraímos empréstimos, não temos pagamentos em atraso e o prazo médio de pagamentos é de 16 dias. No final de 2018 os fundos disponíveis eram positivos, na ordem dos 6,4 milhões de euros, e o saldo de gerência atingiu os 7,1 milhões de euros», enumerou Álvaro Amaro. O presidente destacou também que o grau de execução da receita no ano transato foi de 97 por cento e que na receita ficou-se pelos 81 por cento. Já a dívida a terceiros era de 19,8 milhões de euros a 31 de dezembro de 2018 – era de 42,7 milhões em 2013. «Deixo a Câmara da Guarda com as contas em ordem e com uma capacidade de endividamento de 29,9 milhões de euros, quando, em 2013, quando chegámos, estava em situação de pré-falência», sublinhou.
Álvaro Amaro recordou que a recuperação financeira foi consequência do «saneamento das contas, da negociação com os credores e de uma gestão criteriosa, em que só fazíamos o que podíamos pagar. Também introduzimos uma cultura nova na administração municipal, a de alcançar objetivos de gestão». Não sua opinião, se o município continuar «nesta tendência de consolidação financeira haverá condições no futuro para baixar tarifas da água e saneamento em 10 por cento, bem como o IMI». Menos otimistas mostraram-se os dois vereadores do PS, que votaram contra o documento por não se reverem nas opções da maioria. Para Eduardo Brito, esta Conta de Gerência traduz «a incapacidade da Guarda atrair investimentos, empresas e pessoas, demonstrando que o concelho continua a afastar-se do desenvolvimento».
O eleito da oposição considera mesmo «paradigmático» que tenha havido «apenas 23.790 pessoas registadas no Welcome Center, o que é curtíssimo, para não dizer uma vergonha, para a cidade». O socialista disse também não ter visto no documento «o resultado dos recursos financeiros avultadíssimos gastos ao longo do ano», constatando pelo contrário que «a cada dia que passa se vai verificando que a Guarda se afasta a nível de desenvolvimento de cidades vizinhas, como a Covilhã ou o Fundão». Eduardo Brito criticou a maioria por ter feito «das festas e do embelezamento das rotundas um modo de governação, o que é muito curto para gerar investimento e captar empresas e pessoas». Cáustico, o vereador recordou também que «a Câmara não devolve IRS aos munícipes e depois gasta dinheiro por duas vezes na Rua do Comércio», sendo a Guarda «a cidade com os maiores custos de contexto da região», em termos de água e saneamento, de IMI e de taxas municipais: «Esta política tem que mudar», concluiu o socialista. Na resposta, Álvaro Amaro considerou que a Guarda está no «radar do turismo e do investimento. Era uma cidade apagada, hoje já não é assim, mas sou o primeiro a dizer que é preciso muito mais».
Pedro Fonseca diz que Câmara é «autista»
Pedro Fonseca lamenta que a Câmara da Guarda estabeleça acordos com a Universidade da Beira Interior e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para colaboração científica nas mais diversas áreas e «não tenha nenhum protocolo do género com o IPG».
As duas parcerias foram aprovadas por unanimidade na segunda-feira, mas o vereador socialista chamou a atenção para o facto do município atribuir apenas «20 ou 30 mil euros para apoiar o Instituto na captação de alunos, o que é muito pouco». Na sua opinião, a autarquia deveria ter iniciado este tipo de acordos com o Politécnico local porque «está na cidade, tem recursos técnicos e científicos de qualidade que não são aproveitados». Para Pedro Fonseca, esta opção é «mais um exemplo do autismo» da Câmara.
Quem é o novo presidente da Câmara da Guarda
Natural da Guarda, Carlos Chaves Monteiro tem 50 anos, é advogado, profissão que exerceu de 1995 a 2013, ano em que foi eleito para a Câmara Municipal.
Foi aluno das duas escolas secundárias da cidade, a Sé e Afonso de Albuquerque, antes de se formar em Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa. Foi formador, presidente da direção da Associação Desportiva Futebol Clube (2007-2013) e vice-presidente do Guarda Unida Desportiva (2011-2013). Integra a direção da Liga dos Amigos do Hospital Sousa Martins desde 2011 e é sócio fundador de uma sociedade de prestação de serviços criada na Guarda em 1999. Eleito vereador para a Câmara da Guarda em setembro de 2013, foi nomeado vice-presidente da autarquia por Álvaro Amaro, tendo permanecido nessa função após a reeleição a 1 de outubro de 2017. É presidente da Câmara em exercício a partir desta quinta-feira, dia 11 de abril.
Com a saída de Álvaro Amaro e a promoção de Carlos Chaves Monteiro a maioria PSD na autarquia tem uma nova vereadora. Trata-se de Cecília Amaro, que era desde 2013 adjunta do presidente. Com 51 anos, possui um bacharelato em Gestão de PME’s, foi coordenadora executiva do NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda (2003 a 2013) e diretora/ coordenadora do Centro Novas Oportunidades do Nerga (2003-2012), entre outras funções. É presidente da Junta da União de Freguesias de Pousade e Albardo desde 2017, tendo sido secretária da respetiva Assembleia de Freguesia no mandato anterior. Cecília Amaro tem sido a diretora da Feira Farta (2015-2017).