No passado dia 8 de Agosto, a Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto levou a efeito, na Miuzela (Almeida), uma sessão de homenagem ao seu insigne patrono.
A sessão evocou a vida e obra do homenageado, através da comunicação proferida pela Dr ª Maria de Lourdes Augusta Ramalho, do Instituto de Meteorologia Nacional, sobre o tema “O Professor Pinto Peixoto, a meteorologia e a protecção de vidas e bens e preservação da qualidade de vida e do ambiente”, e foi marcada pela entrega do Prémio Prof. Dr. José Pinto Peixoto ao melhor aluno da Escola da Miuzela no ano lectivo 2003/2004, para além de animação cultural pelos grupos “Arco-Íris” e de Teatro, Danças e Cantares da Miuzela.
A Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto foi criada em 1999 com a finalidade primária honrar e perpetuar a memória de um dos mais brilhantes cientistas portugueses e um dos mais reputados cientistas mundiais, que se afirmou pela sua personalidade ímpar e inconfundível, por uma entrega total à investigação e ao ensino e pelo impulso determinante que deu para o aprofundamento dos conhecimentos científicos, especialmente nos domínios das Ciências da Atmosfera, das Teorias do Clima, da Hidrologia e da Termodinâmica, de que colheram frutos todas as universidades portuguesas e algumas das mais prestigiadas universidades estrangeiras. Filho da Miuzela, onde nasceu a 9 de Novembro de 1922, o Professor Pinto Peixoto viria a falecer a 7 de Dezembro de 1996, deixando ao mundo uma vastíssima e impressionante herança científica e humanista, que a Associação agora criada pretende, também, contribuir para preservar e legar ao futuro.
José Pinto Peixoto licenciou-se em Matemática (1944) e em Ciências Geofísicas (1952) na Universidade de Lisboa e doutorou-se em Física (1959) pela mesma universidade. Foi professor da Universidade de Lisboa de 1952 até ao seu jubileu em 1992, tendo sido vice-reitor de 1970 a 1973. Foi, ainda, professor convidado de várias universidades estrangeiras, entre as quais o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde integrou a equipa de Victor Starr, um dos fundadores da moderna meteorologia, e a Universidade de Princeton, onde realizou estudos inovadores em especial no campo da energética da atmosfera, e presidente do Instituto Geofísico do infante D. Luís e da Academia das Ciências de Lisboa. Muito do seu trabalho de investigação sobre a atmosfera e os oceanos foi condensado e apresentado no livro “Physics of Climate”, que publicou de parceria com o Professor Oort de Princeton e que em pouco tempo se tornou um best-seller na ciência
Honrando o Homem, o Professor e o Cientista, a associação pretende, ao mesmo tempo, criar na Miuzela um espaço cultural que possa constituir um instrumento para o seu desenvolvimento e exercer uma função pedagógica dirigida, especialmente, às suas gerações jovens, cultivando e aprofundando nelas o exemplo cívico do seu patrono, como referência de cidadania para um futuro melhor. Para isso a associação tem promovido anualmente na Miuzela sessões culturais de evocação da vida e obra do seu patrono e, simultaneamente, de divulgação de temas particulares da sua área de investigação científica, de interesse para a comunidade local, no âmbito do seu projecto “A ciência vai à Aldeia”. Paralelamente, tem vindo a desenvolver uma acção pedagógica junto das gerações jovens, através da atribuição, em cada ano lectivo, de um prémio local pecuniário ao melhor aluno que termine o 1 º ciclo do ensino básico na Escola da Miuzela e de um prémio nacional destinado ao melhor aluno que complete o ensino secundário e a ele se candidate.
Ao evocar anualmente o Professor Pinto Peixoto a associação pretende, sobretudo, fazê-lo de uma forma dinâmica, apontando o exemplo da sua personalidade às gerações jovens. Lembrando-o, não apenas numa perspectiva nostálgica mas sobretudo num sentido pedagógico e educativo; homenageando-o não como personalidade ausente e distante mas próxima e íntima; enaltecendo-o não como cientista antigo e ultrapassado mas presente e actual; recordando-o não como homem do passado mas do quotidiano e do futuro; enfim, exaltando-o não como ser extinto mas como memória inspiradora de valores fundamentais no presente e no futuro futuro.
O Professor Pinto Peixoto foi um exemplo de um homem de virtudes e ideais que importa preservar e legar, como matriz fundamental do nosso ser individual e do nosso devir colectivo. Um exemplo de qualidades morais (como o amor à família e ao próximo, a honra, a rectidão e a humildade), de virtudes espirituais (como a crença no transcendente e o no humanismo), de ideais cívicos (como a dignidade, a solidariedade, a cidadania, a tolerância e a abertura ao outro e ao mundo), de paixões culturais (como o saber e a arte) e de atitudes científicas (como a investigação, a qualificação e a inovação), enfim, um exemplo de um HOMEM.
Perante os novos desafios que se lhe colocam num mundo cada vez mais dinâmico e competitivo, Portugal tem de continuar o seu percurso de desenvolvimento e de integração e para isso necessita de cidadãos activos e exigentes, de jovens cultos e empenhados, de trabalhadores responsáveis e criativos e de elites qualificadas e criativas, como o foi o Professor Pinto Peixoto.
Um povo sem memória é um povo sem futuro. Preservar a memória particular de um Miuzelense que foi um ilustre cientista e humanista de reputação mundial e que honrou a sua aldeia natal e o seu país é o objectivo primário da próxima sessão de 8 de Agosto, na Miuzela. Uma sessão aberta a todos quanto o queiram homenagear e partilhar um pouco dos conhecimentos que deixou ao País e ao mundo, hoje tão importantes e actuais.
Por: Augusto J. Monteiro Valente