Não é novidade para ninguém o abandono a que está votado o centro histórico da Covilhã, mas as preocupações só se verificaram esta semana após a deterioração de um edifício na Rua Alexandre Herculano, junto à sede do Partido Comunista Português (PCP), que levou a autarquia a proceder à sua demolição na última segunda-feira. A casa, bastante degradada e abandonada há anos pelos proprietários, começou a ruir e a lançar destroços para a via pública, colocando em risco a segurança dos automobilistas e transeuntes que por ali circulam.
A situação levou a autarquia a demolir o edifício na última segunda-feira para evitar uma possível tragédia causada por aquele estado avançado de degradação após ter sido entretanto alertada por um habitante da zona nalguns jornais locais. No entanto, é bem visível a degradação da zona antiga da “cidade neve” que “O Interior” alertou no Verão passado. Na altura, falava-se da criação da empresa municipal de recuperação de imóveis degradados para recuperar e revitalizar o centro histórico da cidade, transformando-o assim num local privilegiado para a habitabilidade, turismo e comércio. Um ano depois, a empresa ainda não foi criada por causa de atrasos na aprovação da legislação pela administração central, segundo explicou o presidente da Câmara da Covilhã, e apesar de haver um Gabinete Técnico Local a fazer há dois anos o levantamento de todas as carências de cariz social e os imóveis degradados que necessitam de ser recuperados externa e internamente.
É que enquanto não se aplicam medidas de fundo, o centro histórico da cidade arrisca-se a ficar cada vez mais deserto. O pouco comércio existente na zona não é suficiente para atrair a população ou os jovens, amplamente aliciados pelos estabelecimentos mais modernos. Tirando algumas lojas de vestuário, de ferragens, têxteis-lar e algumas mercearias, vêem-se poucos estabelecimentos comerciais no centro histórico da cidade. Os cafés e os bares vão sobrevivendo graças aos clientes fixos que souberam cativar ou então pelas promoções de bebidas que aliciam os jovens noctívagos nas alturas mais desafogadas dos estudos. A ausência de uma esplanada no Verão é ainda motivo para preferir os cafés do Pelourinho, do jardim ou da zona nova da cidade. Os locais de cultura e de lazer também são escassos naquela zona, sendo que apenas o Cine-Centro se encontra em funcionamento. Os monumentos que ali existem, como a Igreja de Santa Maria, os painéis da casa das Morgadas –na sede do PCP – e a Casa dos Ministros insistem a passar despercebidos ao olhar dos turistas e habitantes da cidade. As poucas exposições que acontecem na Casa dos Ministros, onde funcionam os serviços de cultura, educação e desporto da Câmara da Covilhã, ainda não conseguem atrair as pessoas.
Lojas de recordações para os turistas nem se vêem e são poucos os serviços normalmente requisitados pela população instalados na zona. No centro histórico da Covilhã apenas se encontra a degradação das casas, muitas abandonadas ou ocupadas por idosos. Um exemplo vivo da constante desertificação de que a área tem sido alvo nos últimos tempos. Aos poucos, fruto do constante abandono e desinvestimento, vai-se transformando numa zona “fantasma” com pouca atracção para os turistas e até para os moradores. Basta olhar para o Largo que a Câmara construiu em frente à Igreja de Santa Maria para servir de descanso e tertúlia, mas, como toda a zona histórica, não cativa as pessoas. Apesar das inúmeras tentativas, não foi possível falar com o vereador João Esgalhado, responsável pelo pelouro da habitação, sobre as medidas a aplicar em casas em situação àquela que foi demolida, nem com o arquitecto responsável pelo GTL da Covilhã.
Liliana Correia