Ordenado sacerdote a 29 de junho de 1985, António Luciano foi nomeado na semana passada bispo de Viseu pelo Papa Francisco. Uma notícia que recebeu com «muita surpresa» e com «uma grande emoção». Por agora resta-lhe preparar-se bem «com a ajuda do Espírito Santo, a quem entrego as minhas preocupações e desafios», confessou em entrevista exclusiva a O INTERIOR.
Nasceu a 26 de março de 1952 em Corgas (Seia) e no ano letivo de 1980/81 iniciou o seu percurso para a formação sacerdotal, tendo sido ordenado diácono a 8 de dezembro de 1984. «Procurei fazer o caminho para o qual um dia Deus me chamou à luz da fé, com muita simplicidade e humildade, mas ao mesmo tempo procurando ser muito próximo dos outros», afirma António Luciano, que quer «conhecer melhor» a diocese de Viseu.
«Já lá fui professor no seminário interdiocesano e na Universidade Católica. Conheço alguns padres novos, outros de mais idade», adianta o novo prelado, acrescentado que é «muito amigo de D. Ilídio, fomos colegas no seminário, e também agradeço todo o trabalho que ele fez». Antes de chegar à diocese da Guarda, António Luciano passou pela Covilhã e admite que ali viveu «anos maravilhosos»: «Comecei pelas paróquias dos arredores da cidade com a intenção, pelo menos de D. António, de ir trabalhar para a universidade», recorda o padre, que foi capelão da UBI até 2009. «Na altura achei que não seria a pessoa indicada, mas depois comecei a desbravar terreno e criei uma relação muito sadia, positiva e feliz com os alunos», assume. Desses anos lembra «momentos extraordinários» como a bênção das pastas, mas também o facto de naquela capelania terem passado jovens que «encontraram o seu caminho da fé». «Tudo isso aliado à ligação às paróquias e a todo o trabalho que fui tendo, é um todo que não é mérito meu, mas é dom de Deus», afiança o novo bispo de Viseu.
Ainda na academia covilhanense, António Luciano foi docente na Faculdade de Ciências da Saúde, nos módulos de Arte da Medicina, Ética Médica e Bioética, funções que exerceu até finais de 2016. Ano em veio para a Guarda, para o mundo da saúde, onde criou «uma relação muito sólida e positiva» com todo o pessoal do Hospital Sousa Martins e com os doentes. «Tenho aprendido muito com os padres da diocese da Guarda, com o bispo e com este povo de Deus, simples e humilde», ressalva António Luciano. Sobre se está preparado para assumir as responsabilidades de bispo da diocese viseense, que viveu de perto a tragédia dos incêndios, o padre admite que «a preparação faz-se todos os dias, particularmente pela oração, pela atenção e pela procura em ajudar as pessoas». «Sei que D. Ilídio, na altura [dos incêndios], foi um bispo que deu resposta imediata. Foi uma tragédia que assolou o nosso país, com a perda de muitas pessoas. As que ficaram estão muito feridas e é preciso ajudá-las», considera António Luciano, para quem «tudo isto nos ajuda a aprender a fazermos melhor no futuro e o melhor é colocar as pessoas em primeiro lugar e amá-las porque Deus quer-lhes muito bem». Quanto ao nome que vai adotar ainda «é um discernimento que estou a fazer», confessa, dizendo que não lhe «soa mal» D. António Luciano. «Santo António foi um grande santo e é português. E Luciano também quer dizer luz», justifica, referindo que pretende iluminar os que mais precisam «seguindo os passos com humildade, um sentido de muita pequenez e de ser também um grande pecador, olhando para Cristo como um pastor que me chamou e que me serve de modelo e de estímulo».
António Luciano sucede a Ilídio Leandro, que foi nomeado bispo da Diocese de Viseu a 10 de junho de 2006, e que em 2017 pediu a resignação da função por motivos de saúde. A completar 68 anos em dezembro, Ilídio Leandro mostrou-se agradado com a nomeação de António Luciano para seu sucessor, considerando que a diocese «ficará bem entregue». A ordenação episcopal está marcada para 17 de junho, às 16 horas, na Sé da Guarda, e o início da atividade pastoral de António Luciano como bispo terá inicio a 22 de julho.
Instituições congratulam novo bispo da Diocese de Viseu
O padre António Luciano foi capelão do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), «onde desenvolveu um importante trabalho no âmbito das suas funções e granjeou o respeito e apreço de toda a comunidade académica», lê-se em comunicado, que acrescenta que, após cessar esta função, «continuou a honrar» o Politécnico guardense «com a sua conhecida simpatia, disponibilidade e humanidade». Já o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) expressou «enorme satisfação e júbilo», ressalvando a «extraordinária colaboração do padre Luciano para com esta instituição de saúde, à qual tem estado ligado, há longos anos, enquanto elemento ativo da Comissão de Ética para a Saúde». Também a Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda saudou «com regozijo» esta nomeação: «Ao longo dos últimos sete anos, todos nós, profissionais e utentes, verificámos a grande humanidade do capelão Luciano Costa no exercício da sua pastoral da saúde», é referido pelo CA, que acrescenta que «é já com uma ponta de saudade que nesta hora desejamos ao novo bispo de Viseu as maiores felicidades no desempenho das funções a que acaba de ser chamado».
Contando com António Luciano, já saíram da Guarda três bispos
Natural da Lajeosa (Sabugal), José Francisco Sanches Alves estudou nos seminários da Guarda e Évora, vindo a ser ordenado sacerdote desta arquidiocese a 3 de julho de 1966. Depois de ter regressado de Roma, onde estudou Ciências da Educação e se doutorou em Psicologia, foi nomeado a 7 de março de 1998 bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa. A 22 de abril de 2004, o Papa João Paulo II nomeou-o bispo de Portalegre-Castelo Branco e a 8 de janeiro de 2008 foi a vez do Papa Bento XVI o nomear arcebispo metropolita de Évora, função que ocupa até agora. Também António Manuel Moiteiro Ramos desempenha a função de bispo na diocese de Aveiro. O prelado nasceu em Aldeia de João Pires (Penamacor) e frequentou os seminários diocesanos do Fundão e da Guarda. Foi ordenado presbítero a 8 de abril de 1982, tendo iniciado o ministério pastoral como vigário paroquial das paróquias de S. Vicente e de S. Miguel da Guarda e, em 1987, foi nomeado pároco, como membro de uma equipa sacerdotal das paróquias de S. Miguel da Guarda, Alvendre, Avelãs de Ambom, Rocamondo e Vila Franca do Deão. Em 1996 foi diretor espiritual do Seminário Maior da Guarda e, em 2006, foi nomeado pároco da Sé e de S. Vicente, exercendo outros serviços na diocese da Guarda.
António Luciano é o primeiro enfermeiro nomeado bispo
António Luciano cresceu «no seio de uma família cristã» que lhe passou «muitos valores». É o irmão mais velho de sete raparigas e isso levou-o a procurar fazer um percurso «com o equilíbrio da dimensão do humano no masculino e no feminino». Após ter frequentado a escola primária da sua terra natal e o colégio de Nª Srª da Conceição, em São Romão, ingressou na Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, em Coimbra, e trabalhou como enfermeiro nos Hospitais da Universidade daquela cidade. Entretanto cumpriu o serviço militar em Moçambique e quando regressou retomou funções na mesma unidade hospitalar, completando a formação em Enfermagem.
No ano letivo de 1980/81 iniciou o seu percurso para a formação sacerdotal, tendo sido ordenado diácono a 8 de dezembro de 1984 e, no Verão seguinte, presbítero, na Sé da Guarda, diocese onde desempenhou várias funções e foi também professor de Educação Moral e Religiosa Católica. Enviado para Roma para estudar Teologia Moral na Academia Alfonsiana no biénio de 1987/1989, o sacerdote integrou a Comunidade do Pontifício Colégio Português, informa a CEP, adiantando que, «em outubro de 1989, iniciou funções de professor de Teologia Moral no Seminário Maior da Guarda e de Deontologia Profissional e Ética na Escola de Enfermagem, funções que exerceu até ao ano académico de 2011». António Luciano dos Santos Costa foi também vice-postulador da Causa de Beatificação e Canonização de João de Oliveira Matos, que foi bispo auxiliar da Guarda, tendo sido igualmente nomeado juiz do Tribunal Eclesiástico e notário para as causas de Beatificação e Canonização de monsenhor Joaquim Alves Brás e da beata Rita Amada de Jesus.
Sara Guterres