Os Neandertais também passaram pelo Vale do Côa e a sua presença foi confirmada na última campanha de escavação realizada no sítio da Cardina, na localidade de Tomadias (Vila Nova de Foz Côa). Os achados já foram classificados como «únicos» no interior peninsular e poderão ajudar a alargar a cronologia da ocupação humana no Côa.
Os trabalhos decorreram entre 9 de outubro e 17 de novembro e permitiram identificar vários momentos de ocupação do sítio pelo Homem de Neandertal, desde há pelo menos 70 mil anos, ainda antes da arte rupestre do Vale do Côa. Foram encontradas ferramentas e estruturas, como pequenas fogueiras, entre outros vestígios. As escavações revelaram também testemunhos de algumas das primeiras ocupações do Homem Moderno na Península Ibérica e algumas placas de arte móvel produzidas em diferentes momentos da produção da arte do Côa. Foram ainda identificados vestígios dos últimos grupos de caçadores-recolectores, que continuaram a ocupar a região já depois do final da última Era Glaciar. Segundo a Fundação Côa Parque, esta campanha evidenciou «um registo arqueológico ímpar para a compreensão do processo da extinção dos Neandertais na Península ibérica, da cronologia e difusão dos primeiros Homens modernos e dos seus comportamentos sociais e simbólicos, que incluem a produção artística».
As escavações, integradas num projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e o Compete 2020, decorreram numa das margens do rio Côa, a jusante dos sítios da Quinta da Barca e da Penascosa, locais emblemáticos da arte rupestre do Vale do Côa. Participaram arqueólogos da Direção-Geral do Património Cultural, da UNIARQ (Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa) e da Société d’Étude et de Recherche sur le Paléolithique de la Vallée de la Claise (França). O presidente do Conselho Diretivo da Côa Parque considera que estas descobertas vêm dar «um alento redobrado a todos os que se têm empenhado em fazer do Vale do Côa um verdadeiro laboratório científico, para todas as áreas do conhecimento e, sobretudo, para arqueologia portuguesa, que aqui tem a sua “joia da coroa”». Bruno Navarro acrescenta que a Fundação está «de portas abertas» para que a atividade científica realizada no Vale do Côa «se intensifique e se expanda a outras áreas do saber, atraindo um número crescente de estudiosos, também eles potenciais agentes de desenvolvimento económico e social para esta região».
Luis Martins