Decorre neste momento a campanha eleitoral autárquica para a eleição dos órgãos municipais. Um número significativo de pessoas apresentam-se ao escrutínio dos seus concidadãos munícipes, num ato de nobreza e altruísmo de que importa dar nota e relevar.
O seu objeto, porém, não se pode esgotar na vontade de servir, nem na eleição. Terá de ir muito além e de assentar na capacidade de ter uma visão estratégica para o futuro da sua terra e dos seus conterrâneos. Os autarcas, sobretudo os que são eleitos presidentes, têm de ser pessoas com capacidade para inventar estratégias, para se ultrapassarem a si próprios e ter ambição coletiva. É que a política sem ambição, não é política. Nos melhores casos, é só generosidade.
Sabemos quais são as competências das autarquias locais e as suas limitações. Mas fazer politica hoje – desculpem a expressão tão beirã – tem de ser pôr uma pedreira a produzir. Olhando para os programas eleitorais de toda a Beira Interior, vemos que são muito pequeninos, para não dizer pequeníssimos. Parecidos entre si, sem ambição, sermões paroquiais. Pode haver exceções: confesso que não as vi.
Qual é o programa que preconiza investimento estruturante, estratégia económica, povoamento ou exigências concretas ao poder central? Nenhum.
Dir-me-ão que isto não são incumbências do poder local. Mas muitas são! E, para aquelas que não são, tem de haver uma estratégia política – sublinho: política! – para conseguir que órgãos de Estado competentes façam o que deve ser feito.
Sem investimento e sem uma verdadeira economia de empresas não há lucro, não há emprego, não há sustentabilidade individual ou familiar, não se cria riqueza. Sem exigência, não há mérito nem sucesso. É assim nos estudos, é assim no trabalho. E tem de ser assim na política. Exigir sem medo, ir além do poder real. Não perceber isto, é mediocridade. Quem não o percebe, quem não sente, não devia estar na política, não devia ser autarca. Ou, pelo menos, não devia ser presidente de Junta e, muito menos, presidente de Câmara.
Enquanto assim se continuar não haverá verdadeiras politicas. E as autarquias continuarão a ser apenas espaços emblemáticos administrativos, promotores de festas, construtores de rotundas, compradores de estátuas e ampliadores de cemitérios – este último, aliás, um dos poucos ramos das políticas públicas que tem crescido por estas paragens.
Como em tudo na vida, há sempre duas hipóteses. A primeira é continuar igual ao que se tem passado. A segunda é haver quem avance sem medo de alterar os equilíbrios de forças. Alguém com estofo para ir além do poderzinho tradicional, o poderzinho modesto, bem comportado: alguém que supere as águas paradas do autarca instalado.
Estas eleições autárquicas estão quase consumadas. Olhemos para o futuro. Quem é que nas suas freguesias ou concelhos se junta a gente empreendedora, dentro ou fora dos partidos, e começa a fazer uma corrida de fundo de quatro anos para preparar uma proposta autárquica consistente, estratégica e arrojada?
Por: Acácio Pereira
* Presidente do SCIF-SEF – Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF