1. A linha do Douro, no troço entre o Pocinho e Barca d’Alva, nos concelhos de Vila Nova de Foz Côa e Figueira de Castelo Rodrigo, foi desativada e encerrada ao tráfego ferroviário há mais de 20 anos, encontrando-se hoje num estado de absoluto abandono e destruição da via e estações do percurso, que a breve prazo será irreversível.
A linha férrea ladeia a margem esquerda do rio Douro no seu trecho mais bonito e espetacular do ponto de vista paisagístico, no qual se integra a foz do rio Côa e o seu património arqueológico.
É ainda a única via férrea do país que atravessa um território que integra dois Patrimónios Mundiais da UNESCO, o Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Vale do Côa. É uma linha centenária perfeitamente integrada na paisagem dos socalcos durienses, entre amendoeiras e vinhedos, com um enorme potencial e uma mais-valia para reforçar o Vale do Douro enquanto destino turístico internacional.
A destruição da linha do Douro que, paulatinamente, vamos testemunhando, tem de ser travada; é necessário que se evite o seu desmantelamento travessa a travessa, carril a carril, pedra a pedra. É tarefa fundamental do Estado proteger e valorizar o património cultural como instrumento primacial da dignidade da pessoa humana. Como é urgente que o Ministério da Cultura reconheça formalmente o troço Pocinho-Barca d’Alva da Linha do Douro como bem de interesse cultural digno de proteção evitando assim o seu desmantelamento.
A Linha do Douro é mais uma potencialidade de uma região classificada pela UNESCO – o que reforça o seu valor patrimonial e turístico enquanto elemento integrador da paisagem duriense, como verdadeiro monumento à correta intervenção humana no território.
Não desistiremos desse objetivo!
2. Há dias fui a Melo/Gouveia para participar numa justa homenagem ao bombeiro mais antigo do país, o chefe Luciano Viegas. Cem anos de vida, mais de 80 anos como soldado da paz. A sua sabedoria lúcida surpreendeu-me. Dizia ele que quando começou como bombeiro não havia fogos nas matas porque estava tudo limpo e cultivado. Os incêndios eram nas casas. “Estava tudo limpo”… Significa uma floresta com vida num território ocupado. Utopia desfeita com o despovoamento do mundo rural.
Hoje temos de nos adaptar à realidade dos nossos territórios e agir sem mais demoras. Há mão criminosa mas há muita negligência dos donos das terras, a começar pelo Estado. O pacote florestal já publicado tem de ser executado contra tudo e contra todos, sem tacticismos político-partidários. Cadastro, banco de terras, ordenamento, prevenção, centrais de biomassa, são tudo conceitos complementares. Até a ideia de cabras nas nossas serras… Lembram-se?
Por: Santinho Pacheco
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda