Na minha crónica anterior recordei o velho problema do estacionamento no centro da cidade da Guarda. Este, como o assunto de hoje, o Hotel de Turismo, tem vindo a ser discutido por mim nos jornais há muitos anos, muito antes da atual gestão camarária pelo PSD, e lamento ter de dizer que continua tudo no terreno das promessas por cumprir.
No caso do Hotel de Turismo não há inocentes. A anterior maioria socialista não encontrou melhor solução para o hotel que o encerramento e a venda. A compradora, um organismo estatal, mais não fez do que mantê-lo encerrado e a degradar-se – e aqui PSD e PS irmanam-se na culpa, atendendo a que foram governo sucessivamente, tutelaram esse organismo e deixaram apodrecer os milhões aí investidos.
Sucede que a culpa do PSD e do atual executivo camarário começa a ser dolosa. A única promessa concreta na campanha eleitoral de há quatro anos foi precisamente a reabertura do hotel, promessa reforçada com a pintura simbólica de parte da fachada. Deveria ser fácil obter da então maioria liderada por Passos Coelho uma solução para o problema – a era aliás urgente essa solução, atendendo ao investimento estupidamente parado, aos postos de trabalho aí perdidos, à necessidade de oferta hoteleira no centro da cidade, à anunciada retoma da economia. Pior ainda, num mandato autárquico em que a única coisa que parecia interessar era a realização de eventos, supostamente destinados a atrair turistas e visitantes, mantinha-se encerrado e a apodrecer, por inépcia governamental e camarária, o Hotel de Turismo que os poderia albergar.
E assim, nesse movimento frenético de mexe-muito-mas-não sai-do sítio, passaram quatro anos e ficou tudo praticamente na mesma, até que o atual governo decide lançar um concurso para a exploração do hotel e o atual presidente da Câmara, aparentemente surpreendido, balbucia umas banalidades sobre a iniciativa privada que de alguma forma iria resolver o assunto.
É claro que há que dar o desconto a esse concurso, já que estamos em ano eleitoral e quanto a promessas eleitorais, sobretudo relacionadas com o Hotel de Turismo, estamos conversados, mas pelo menos haverá agora uma sequência. Vão aparecer concorrentes, impulsionados pela já notória retoma da economia e pelo crescimento da atividade turística, acima da média da economia. Vai ser necessário fazer obras, que o estado do edifício é lamentável, mas as empresas de construção civil vão agradecer, e vão pagar ordenados, contribuições e impostos. Serão criadas dezenas de postos de trabalho, também geradores de impostos e de contribuições para a Segurança Social e será disponibilizado alojamento para dezenas ou centenas de turistas e visitantes, que ajudarão com o dinheiro que aqui gastarem à retoma da economia da cidade.
É claro que uma solução para o hotel é trabalhosa, mas o benefício para a cidade é evidentemente enorme. Tão enorme que se torna especialmente censurável a incompetência com que o assunto foi tratado.
Por: António Ferreira