Conduzia, abstraído nos meus pensamentos, vencendo mais uma rotunda e com ela mais um cartaz. A publicidade sempre me fascinou, mesmo quando de qualidade duvidosa. A imagem, a mensagem, o conteúdo da informação, a força da afirmação, a dinâmica ou a ausência dela e, claro, a cor. Há cartazes tão fortes que nem precisam de legenda, outros não a dispensam e dela se valem como de um livro.
Em tempos idos, as cidades pequenas não tinham rotundas e por consequência não tinham cartazes. Assim, podemos concluir de forma simples, mas porventura abusiva, que as rotundas e os cartazes são sinal da notoriedade e da maioridade das cidades. Contudo, qual será a eficácia na venda de um automóvel? Ou de uma casa? Ou de uma bicicleta? Ou da roupa interior?
Obviamente que devem ter sido realizados estudos de mercado. Por exemplo, por cada 1.000 pessoas que fazem diariamente a rotunda há uma que compra a bicicleta. Outros há que nos presenteiam com informação política ou partidária, como aquele em que o partido do governo se compromete a arranjar 100.000 empregos ou o outro em que se condena a precariedade. Neste caso provavelmente a proporção será diferente, do tipo por cada 10.000 passagens há 1 que fica convencido. E mais uma vez a cor é importante.
Entretanto, com a aproximação do ato eleitoral, os cartazes espalham-se pelos bairros e pelas aldeias, contando feitos gloriosos até aqui nunca alcançados pelos nossos autarcas, pagos obviamente com o dinheiro dos contribuintes. Não há muito tempo o verbo requalificar era o escolhido, trocado agora pelo verbo renascer.
Em breve abrem-se as hostilidades, disputando-se os melhores locais para os cartazes com as mensagens eleitorais e as fotografias dos candidatos. E aí eu pergunto-me qual será a eficácia? Quantos votos serão atribuíveis à passagem pela rotunda?
Entretanto o ato eleitoral para a presidência francesa decorreu sem atentados, apesar da nuvem negra ameaçadora. Estas eleições trouxeram de novo à ribalta os nacionalismos, os patriotismos, os atentados, os refugiados, os imigrantes, as fronteiras, mas principalmente as políticas que levam à desvalorização do trabalho e da pessoa. Mas estas eleições caracterizaram-se também pela necessidade dos candidatos se afastarem dos partidos. Disputado por onze candidatos, em que a terminação do nome em “– on” imperava, restaram dois para a segunda volta, uma de extrema-direita, sendo que o outro, embora oriundo de um governo socialista, tem tiques de centro-direita. Teremos oportunidade de ver eleitores de esquerda a eleger Macron, que tenta passar a imagem de um projeto de renovação, mas enquanto ministro socialista liberalizou a pasta da Economia, alterando a legislação sobre despedimento coletivo. Marine Le Pen reflete o nacionalismo e o reaparecimento das fronteiras, assumindo-se como a imagem do “Frexit”.
Mas quase não se falou de seis dos candidatos que não ultrapassam os 5% de intenção de voto, mas com ideias interessantes, de tal forma que, a serem exequíveis, certamente nos convenceria a todos porque, na realidade, prometer é fácil quando não se ambiciona o poder. Dois deles são trotskistas, sendo que Poutou é repetente e defendia 32 horas semanais de trabalho em 4 dias e o aumento do salário mínimo. Cheminade, repetente e que desta vez se propunha colonizar a lua e de seguida conquistar Marte… Havia também um “pastor” (filho de pastores) com pretensões ao Eliseu, tendo nos últimos anos percorrido mais de 6 mil km a pé e apostado numa greve de fome. Sendo presidente de uma autarquia com 160 habitantes, pretendia dar o salto para a governação de mais de 65 milhões. Quantos cartazes pequenos, grandes ou gigantes se teriam espalhado pela França? Quanto representou verdadeiramente para a economia? E quantos votos colheram?
Já agora, atendendo aos cartazes verdes ou azuis, com olhos postos no renascimento da Guarda, que se espalharam por aí que nem cogumelos, são promovidos pela Câmara Municipal ou pelas Juntas de Freguesia respetivas? Ou seja, perguntado de outra maneira, a quem deve o cidadão/eleitor ficar eternamente reconhecido e expressá-lo dentro de 4 meses?
Os cartazes continuam a ser para mim motivo de reflexão em relação à sua eficácia versus custo. Mas não tenho dúvidas em relação à importância da cor de fundo e pergunto-me qual será a cor dominante dos cartazes. Vermelho ou laranja, verde ou azul? Com “nuances” e “dégradé” possivelmente…
Por: João Santiago Correia
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