A Junta de Colonização Interna pretendia, nos tempos do Salazarismo, povoar áreas desérticas do território. O governo, por intermédio da Junta, atribuía casa e terra aos colonos que se dispusessem a aceitar o desafio. Há algumas aldeias desse tempo, com casas todas iguais, igreja, escola, tudo ao estilo do Estado Novo. Os tempos são agora outros e a prioridade parece ser a descolonização.
A saída da Caixa Geral de Depósitos de Almeida é típica destes novos tempos. O argumento, como sempre, é o da viabilidade económica: não se justificará, para a Caixa, a manutenção de uma estrutura que lhe traz prejuízo, e isso parece razoável. Também pareceram razoáveis o encerramento de serviços de urgência, serviços de finanças, centros de saúde, escolas, infantários, ou a deslocalização para centros maiores de serviços da mais variada espécie. Se há pouca gente, não vale a pena manter aberto o serviço X; o seu encerramento obrigará à deslocação dos respetivos funcionários, diminuindo ainda mais a população ativa da cidade, ou vila, e levando mais tarde ou mais cedo ao encerramento ou deslocalização do serviço Y ou Z por falta de utentes que se sirvam deles, ou por aparentemente muito razoáveis critérios económicos.
É verdade por um lado que é urgente resistir. O encerramento ou deslocalização de serviços acaba por ser um reforço do círculo vicioso, ao acelerar ainda mais o processo de despovoamento. Se é isso que se pretende, concentrar a população numa faixa ao longo da costa e em meia dúzia de cidades de maior dimensão, então o Estado está a fazer um bom trabalho. Não acredito nisso e creio que é tudo uma consequência da habitual visão a curto e médio prazo dos nossos responsáveis: o importante é as contas do próximo ano baterem certo, cumprirem-se os objetivos para os próximos tempos.
O futuro? Logo se vê, tudo há-de ter solução, para já é melhor assim. A sucessão de lugares comuns e a incapacidade de planear a longo prazo, típicas de quem tem como único horizonte o ciclo eleitoral, se são já de si reprováveis, acabam por deixar de lado o verdadeiro problema, de que esses encerramentos são mero sintoma: porque deixaram os portugueses de ter filhos?
Dirão que é a crise mas, em tempos bem mais sombrios que estes, cada casal tinha três e mais filhos e foi já em tempos de convergência económica com o resto da Europa que soaram os primeiros sinais de alarme. Serão melhores explicações o abandono da agricultura tradicional, a chegada em força das mulheres ao mercado de trabalho, mas também a precariedade no emprego, a incerteza em relação ao futuro, o egoísmo das novas gerações ou, também, a verificação de que o Estado vai transformando grande parte do território e, no que nos interessa, o interior, num lugar onde não parece adequado ter filhos.
Por: António Ferreira