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«Hoje os trabalhadores têm menos direitos que há dez anos»

Cara a Cara – José Pedro Branquinho

P- O que significa o 1 de maio?

R- O 1 de maio é o dia mais importante dos trabalhadores. Há 131 anos, numa manifestação, os trabalhadores foram vítimas da brutalidade das forças de segurança e alguns deles pagaram com a vida por estarem a lutar pelas oito horas de trabalho, pelos seus direitos, pelos seus salários. E, portanto, a partir daí este dia – o Dia Internacional do Trabalhador – é comemorado em todo o mundo. É o dia em que a CGTP faz questão de comemorar em mais de 40 locais do país e este ano estivemos na cidade da Guarda e em Seia. Na Guarda, a 36ª Grande Corrida Popular, em parceria com a Associação de Atletismo, contou com a participação de mais de 100 atletas, em Seia com uma Marcha Contra a Precariedade, por melhores salários e por melhores direitos, que juntou duas centenas de trabalhadores. Do ponto de vista das organizações de massas, o primeiro de maio é o dia mais importante dos trabalhadores.

P- Continua a fazer sentido festejar o primeiro dia do mês de maio?

R- Faz todo o sentido. A sociedade muda e a luta dos trabalhadores é muito importante para continuar a garantir direitos, salários e o Estado Social que assegure a todos uma vida digna. Os direitos laborais serão tão fortes quanto a força das organizações dos trabalhadores. Durante o fascismo havia repressão e prisão para os trabalhadores. Com o 25 de Abril, as organizações sindicais de classe e as condições de vida dos trabalhadores melhoraram. Hoje temos um nível de precariedade imenso, temos muitos jovens sem trabalho, muitos jovens com pouco salário e, portanto, faz todo o sentido que se comemore este dia e que se faça com a juventude para que o futuro seja mais risonho.

P- É cada vez mais frequente que a relação entre patrão e trabalhador passe pela exploração deste último?

R- Claro que sim. Mais evidente nuns setores do que noutros, mas é exatamente isso: a exploração do patrão sobre o trabalhador. E é essa exploração que o trabalhador tenta combater. Nalguns setores essa exploração não é tão forte, nem tão evidente, mas noutros é massiva e tem caraterísticas de quase escravatura. É por isso que é importante a contratação coletiva, é por isso que são importantes as organizações de massas e é por isso que é importante os trabalhadores estarem atentos e conhecerem os seus direitos porque, efetivamente, há patrões que não têm qualquer tipo de regras. Para eles vale tudo. Mas a verdade é que o caminho dos últimos anos, no que respeita a leis laborais, resulta sempre no prejuízo para os trabalhadores, fruto da política dos últimos governos.

P- Quais são os principais problemas no distrito da Guarda?

R- Ao nível do distrito da Guarda temos muitos problemas. E são piores porque o interior está desertificado. Temos carências enormes na saúde, na educação, na cultura, na coesão territorial. Precisamos de medidas de discriminação fiscal positiva para fixar trabalhadores qualificados e empresas com trabalho permanente e qualidade para fixar os nossos jovens.

P- Hoje em dia os trabalhadores têm mais ou menos direitos do que há dez anos atrás?

R- Hoje os trabalhadores têm mais direitos que há 50 anos, mas têm menos direitos que há dez. Têm menos férias, há contratos coletivos em que se perderam direitos, há alguns que têm os salários congelados, a negociação coletiva congelada, a caducidade.

P- Acha que há motivos para uma greve geral?

R- Eu acho que os motivos estão sempre em cima da mesa, mas quem decide são os trabalhadores e as suas organizações sindicais. Quando se chega à greve geral é porque o diálogo se esgotou e chegou a rotura. A sua concretização depende dos sinais que o Governo der e for capaz de demostrar aos trabalhadores. Se o Governo for capaz de dar sinais que quer continuar este caminho de reposição de direitos e salários, estou convencido que não haverá greve geral. Se não abrirem portas à negociação, à contratação e reposição de direitos não excluímos essa possibilidade.

Perfil:

Presidente da Direção da União de Sindicatos da Guarda

Idade: 52 anos

Profissão: Técnico de Informação Turística

Currículo: Coordenador da União de Sindicatos da Guarda

Naturalidade: Vila Nova de Foz Côa

Livro preferido: Algumas dezenas. O último que me surpreendeu foi “Perfeito de Carvalho”, Um Sindicalista da 1ª República 1908-1922 de Francisco Canais Rocha

Filme preferido: Nos últimos anos não vou ao cinema, gostei de ver “Dança com Lobos”

Hobbies: Leitura e caça

José Pedro Branquinho

Sobre o autor

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