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Cérebro mágico

Tresler

1. Multidões de eleitores anseiam por líderes carismáticos e “transformadores” e que consigam “resolver os problemas” sem tocar os seus interesses. Multidões de fiéis rezam para que um milagre salve a sua vida mesmo se o milagre que pedem interfere com os direitos e interesses de terceiros. Multidões de mulheres (e homens) acreditam na invenção de dietas milagrosas sem que seja necessário renúncia e entrega. Não sabem como se chega lá mas é isso que querem, “salvar” a sua vida. Vemos assim em cada dia n pessoas à procura de qualquer coisa de mágico, seja “essa coisa” uma dádiva de Deus, o aparecimento de um político competente e sábio ou uma dieta fácil e que não faça mossa nos hábitos alimentares. Tudo “isso” choca atualmente com a realidade, hoje completamente iluminada e em que rapidamente encontramos as falhas de uma dieta, as fragilidades de uma medida política ou as incoerências da crença. Se é verdade que a fé “move montanhas”, como compreender no entanto a ingenuidade das pessoas a não ser por aquilo que chamamos “natureza humana” ou “fraqueza humana”?

2. A magia é mais forte em atração quando falamos de comida. Quantos de nós, aspirando a um corpo perfeito, anseiam por dietas em que à simplicidade se alie a eficácia e rapidez?! É a área em que de certeza mais milagres se pedem à divindade. É também a área em que nos aconselham coisas que, passados poucos anos, deixam de estar “na onda”, sem que ninguém venha prestar contas. Já crucificaram os ovos, o leite, as gorduras animais, as carnes vermelhas, o frango, e não é que estes alimentos afinal têm razão de ser numa alimentação normal?!

David Perlmutter (DP), na obra “Cérebro de Farinha”, vem comprovar, através de numerosos estudos dele e de outros especialistas, que são os hidratos de carbono os maiores inimigos de uma alimentação racional e que estão na origem de uma série de doenças crónicas que afetam o cérebro. Segundo esta obra, a doença de Alzheimer, a diabetes, a demência ou a depressão têm a sua progressão relacionada com a ingestão de hidratos de carbono, que são alimentos que o organismo converte imediatamente em açúcar, passando depois este a massa adiposa. Isto, para além de boa parte desses alimentos conter glúten, considerado por este especialista o veneno dos tempos modernos (“o tabaco da nossa geração”). O glúten que existe no pão e nos cereais não era o mesmo há 60 anos atrás, tendo um pão de hoje 40 vezes mais glúten que o pão de há 60 anos. Pensamos nisto e interrogamo-nos sobre o que a indústria alimentar nos anda a dar de comer, com o processamento dos alimentos naturais a operar também transformações em geral nocivas e indutoras de doenças. Sabia que muitas doenças do foro psicológico e neurológico se curam evitando alimentos com glúten?

Outra ideia que nos quiseram impor nas últimas décadas tem a ver com a diabolização da gordura animal e do colesterol, que afinal permite ao cérebro manter o seu funcionamento, libertando neurotransmissores e evitando sobrecarregar o fígado na sua produção. Os níveis de colesterol mau (LDL) não são assim, segundo DP, a principal causa dos problemas de hipertensão e cardíacos, tendo os seus níveis nas análises que fazemos tetos muito baixos. Incrível, não é? Não prefira pois a margarina à manteiga. Troque já.

O médico David Perlmutter vai-nos encantando com as suas observações e encaminhando para a dieta que devemos adotar. Mas vejam agora. Imaginam a vossa dieta com 80 ou 90% de alimentos sem hidratos de carbono, o que propõe DP? Eliminar (quase) o pão, as batatas, os bolos, as bolachas, as massas, os cereais? Abandonar os sumos, as colas, a margarina e todos os óleos alimentares? Limitar a fruta aos frutos secos, aos frutos vermelhos e aos frutos não-doces? O que sobra? Imensos alimentos, evidentemente, mas que introduziriam tanta revolução na cozinha como na vida das pessoas.

DP acaba o seu livro propondo um conjunto de alterações na vida das pessoas, que comprovadamente têm efeitos na saúde cerebral. Para além de, semana a semana, ir introduzindo os novos alimentos, sem hidratos de carbono e sem glúten, propõe a adoção do jejum regular como fator de desintoxicação e ataque às inflamações com a produção de antioxidantes; propõe a necessária dose de exercício físico, que oxigena e estimula o crescimento de novos neurónios; propõe um sono regular, respeitando os nossos ciclos naturais. É possível reabilitar, diz ele. Mas é difícil, dizemos nós.

(David Perlmutter, “Cérebro de Farinha”, Ed. Lua de Papel,7ª ed., 2016)

Por: Joaquim Igreja

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