Sobre o decadentismo da cultura escreveram Wilde, Simmel, Barzun. Contra os filisteus que massificaram a cultura e a transformaram em entretenimento barafustaram Adorno e Arendt. A propósito da tragédia do fim da nudez protesto eu.
A obra de arte pode ter perdido a sua aura na era da reprodutibilidade técnica, mas as reproduções de corpos desnudos têm uma aura que não é de todo técnica. Se a nudez feminina é uma distribuição desigual das representações de género na imagética mediática, não se pode deixar avançar esses filisteus do tapadismo, que retiram as mulheres nuas em vez de acrescentar homens despidos. A solução é diversificar, depois cada qual olha para o que lhe interessa.
Em termos de apreciação dos tecidos orgânicos visíveis, tenho mais interesse em visitar a mansão da “Playboy” do que a Galeria da Academia de Florença. Mas sabemos que o fim da civilização de Botticelli, Rubens e Bigas Luna está perto do fim quando a “Playboy” veste as suas coelhinhas e o museu Capitolini cobre as suas estátuas.
O cerco aperta-se de tal forma que, no futuro, a mesma internet que se usa para o trabalho, para o engate, ou para preparar atentados terroristas, será a única possibilidade restante para ver nudez. E se algum dia essa internet falhar, só espero que quem mande nessa altura não se lembre de confiscar os discos rígidos.
Por: Nuno Amaral Jerónimo