Um dos maiores males que se pode fazer aos territórios do interior de Portugal é descrever a sua realidade com meias verdades.
É certo que por toda a região, no distrito da Guarda em particular, de responsabilidade pública ou de iniciativa privada, têm sido implementados projetos de enorme valia e vultoso investimento.
Autoestradas, equipamentos de saúde, uma rede escolar do pré-primário ao superior, o TMG, o Museu do Côa, projetos turísticos de excelência, a COFICAB, investimentos agrícolas, da pecuária à vinha ou fruticultura, bem arrojados, do melhor que se faz no mundo inteiro.
As Aldeias Históricas, programa a cumprir 20 anos do seu lançamento, foi a primeira tentativa de um olhar, diferente e integrado, para o mundo rural.
Esta narrativa, politicamente correta, omite tantas vezes, deliberadamente, o outro interior; as cidades, vilas e aldeias paradas no tempo, despovoadas e envelhecidas, dos campos ao abandono, das ruínas das casas de granito que não resistiram ao tempo, do desaparecimento dos rebanhos, dos incêndios de verão, do encerramento de serviços públicos, da falta de meios de transporte, dos lares e centros de dia para idosos, donde há anos atrás havia escolas e crianças.
Estes territórios, “onde tudo vai morrendo”, quase em silêncio, já foram ignorados tempo demais e não aguentam mais esperas e soluções adiadas.
A questão do interior é uma verdadeira emergência nacional, que exige uma resposta global e integrada.
O programa do XXI Governo constitucional, agora aprovado, procura afirmar as regiões fronteiriças como uma nova centralidade no mercado ibérico, propondo constituir uma Unidade de Missão para valorização destes territórios.
Aquele documento, balizador da atividade governamental, lança um conjunto de medidas e projetos, como concelhos empreendedores em rede, valorização dos espaços de produção, plataformas regionais para a empregabilidade, parcerias urbano-rurais, valorização e promoção de produtos regionais, até ao incentivo à fixação e atração de jovens ou fomentar a produção e o emprego nos territórios raianos e intensificar a cooperação transfronteiriça.
Valorizar a atividade agrícola e florestal e todo o mundo rural é outro objetivo prioritário.
Incentivar o empreendedorismo rural e aumentar os apoios aos jovens agricultores são apenas dois exemplos de como o concretizar…
Apostar no Turismo como sector estratégico para o emprego e para o crescimento das exportações e relançar o investimento na inovação, investigação e desenvolvimento empresarial, em ligação ao Politécnico, acentua a prioridade à inovação e internacionalização das empresas, também no interior.
Eis, pois, um conjunto muito sumário de propostas que reforçam a nossa confiança na nossa Cidade e seu Distrito.
O Governo indica um rumo e lança-nos desafios, mas deve também dar sinais de que, agora sim, mais que diagnósticos, há ações.
O primeiro gesto bem poderia ser uma baixa no custo das portagens na A23 e A25, essa barreira à vinda de investimento e prejudicial à competitividade do nosso tecido empresarial.
Depois, o Governo terá de fixar um quadro legal, financeiro e fiscal que estimule o investimento e incentive a cooperação e extensão empresarial, vocacionado para territórios de baixa densidade.
Aqui, na Guarda, estamos preparados para construir um tempo novo, envolvendo autarquias e respetiva CIM, o Instituto Politécnico da Guarda e Universidade da Beira Interior, empresários e associações empresariais num Contrato de Desenvolvimento que comprometa todas estas entidades e o Estado, num projeto de desenvolvimento distrital e regional.
É difícil? Claro que é difícil, mas como dizia o Poeta: «Caminhante, não há caminho; o caminho faz-se a andar!»
Santinho Pacheco*
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda