Uma entrevista dura, uma conversa feroz de um predador que esteve acorrentado. Sócrates não é um “vaidoso, é um vai treze ou catorze” e possivelmente essa característica retirou-o das lágrimas, da dor profunda que tem de sentir no final de um processo desta dimensão. Eu fui muito crítico da governação deslumbrada de todos e até de Sócrates. Sou um crítico violento da função pública que os governos até Passos Coelho têm protegido e mesmo este, acabou por não reduzir de modo claro. Assim, observei a força de quem não nasceu para ser vítima, confrontar-se com a máquina do Estado que não soube reduzir, melhorar e catapultar em qualidade e eficiência. Sim, Sócrates, o Ministério Público está pejado de incapazes, como as ARS, como as Câmaras Municipais, como muitos ministérios, sempre gente com o mesmo nome de outras que já lá estavam e muitas pessoas que os governantes lá colocaram por laços familiares, laços de amizade partidária e, frequentemente, sem mérito ou carreira alguma. A estrutura do Estado carece de assessores e de apoios porque está carregada de espíritos elevados? O Ministério Público, como tudo o resto, está afogado em processos construídos numa cadeira, com base em entrevistas e nunca em movimento de pernas, idas ao terreno. É verdade que o Estado (infelizmente também muitas empresas) não permeia a produtividade, não permeia o arrojo, não evidencia a sofisticação, não enobrece a eficiência, não contabiliza os resultados para distribuir o mérito. Sim isso é real, mas Sócrates o governante ajudou a que assim se perpetuasse e agora António Costa quer valorizar nas suas mais deprimentes falhas como as reformas exorbitantes, os prémios de gestão e não de quem trabalha. Sócrates o perseguido está a ver aquilo que muitos antes dele observaram sem capacidade de defesa e isso só pode ser bom para todos nós. José Sócrates desancou o Ministério Público com argumentos contundentes, acusações de investigação negligente. Não sei se tem razão mas desconfio que sim, pois já vi disso na Inspeção de Saúde, nas Inspeções de Educação e outras estruturas do Estado que não gostam de frio e não vasculham com as mãos na podridão que sabem que existe. Muitos, donos de processos sujos não estão para se aborrecer – o dinheiro cairá no fim do mês, independente da qualidade da função exercida.
Por: Diogo Cabrita