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Matem o mensageiro

Editorial

Um bom amigo chamou-me a atenção para umas declarações do Diretor Clinico (DC) do Hospital Sousa Martins, na rádio F, sobre a notícia da avaria e inoperacionalidade dos equipamentos de broncofibroscopia. Gil Barreiros terá dito que um jornal praticou «mau jornalismo» e prestou um mau serviço (expressão repetida ad nauseam) por «falar mal» da Guarda (?) e do Hospital (?) ao publicar «más notícias», o que, na opinião daquele membro do Conselho de Administração da ULS, «só ocorre na Guarda». Recorrendo à habitual cobardia e pusilanimidade de não se identificar o órgão de comunicação social (OCS), o médico referia-se a O INTERIOR (cuja edição da semana passada destacava que a «pneumologia do Hospital da Guarda» o «serviço de maior prestígio do Sousa Martins» não tinha esse equipamento básico porque um aparelho avariou-se há seis meses e entretanto ainda não foi arranjado e o outro avariou-se «na semana passada» e também ainda não foi arranjado). Não fomos o único OCS a dar essa «má notícia» (que também a Rádio Altitude veiculou), mas, de facto, os jornais ficam e lêem-se e comentam-se… e, por isso, mesmo quando parece que a imprensa está a perder audiência ou impacto, são sempre os jornais «os mensageiros» que há que abater, e são também aqueles cuja mensagem é sempre mais perscrutada, analisada e comentada.

Há duas formas de olhar para o assunto: uma é desvalorizar, até porque o comentário ficou confinado aos ouvintes que naquele momento sintonizavam aquela emissora, e não vale a pena dar importância ao que não é importante. A outra é contestar e impedir que aleivosias possam deformar a realidade. Ora, não é admissível que um alto dirigente de uma instituição pública ataque o brio e o profissionalismo de um jornal que, no exercício da sua atividade, publicou uma notícia que é verdadeira e do interesse público – a avaria de equipamento básico num hospital. Gil Barreiros vergastou no «jornal», como se este mentisse, criando uma perceção errada nos ouvintes, induzindo a uma interpretação incorreta nas pessoas: de que o jornal teria mentido ou adulterado a verdade.

Ora, não houve «mau jornalismo» o que houve foi má gestão, no Hospital. O jornal divulgou a notícia de que os dois equipamentos existentes no Sousa Martins avariaram (um «há uma semana» e o outro «há seis meses»!!). E ouvimos e reproduzimos declarações do Diretor de Pneumologia esclarecedoras sobre a situação. O que o Diretor Clínico deveria ter dito, mas não disse, foi que durante seis meses houve inércia no CA de que faz parte e não conseguiram atempadamente e preventivamente lançar concurso público para a aquisição de um novo equipamento; o que o DC não disse, mas devia ter explicado, é que a solução «rapidamente» encontrada passou pelo pedido de empréstimo de um aparelho de broncofibroscopia ao Hospital de Viseu seguido «do rápido» aluguer de outros dois a uma empresa de Barcelona, para resolver a situação de emergência que se criou pela inércia anterior; e, não disse mas devia ter dito, quanto custa o aluguer de dois equipamentos, enquanto o letárgico processo do lançamento de concurso para aquisição não é concluído; e não disse, mas devia ter explicitado, como é que é possível que um CA com zelo não conseguiu em tempo útil reparar o broncofibroscopia avariado há seis meses ou, em substituição, adquirir um novo. E também não disse, mas devia ter dito, que após lerem a notícia do jornal O INTERIOR o CA mandou realizar um inquérito para «apurar responsabilidades» do atraso do concurso público de aquisição na sequência de deliberação de há dois meses atrás. Ou seja, equipamentos básicos avariaram, o CA “deixou andar”, a imprensa revelou factos, ouviu o Diretor de Serviço, mas, para Gil Barreiros, isto foi «mau jornalismo», que só se pratica «na Guarda», pois os jornais deviam era «dar boas notícias» e falar «do que é bom», como “no tempo da outra senhora”.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Pedro migueldeunamuno2015@gmail.com
Comentário:
Que esperar de um Conselho de Administração incompetente e que só serve para garantir emprego aos boys, um CA que conseguiu transformar uma fisioterapeuta que nunca trabalhou em auditora… deviam era todos ser demitidos e o Ministério Público devia investigar o que esta gente anda a fazer.
 

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