Decisão tomada na passada quinta-feira é o culminar de sucessivos desentendimentos políticos com António Morgado, que ficou sem pelouros e passou a exercer funções regime de não permanência.
A unidade da maioria PS na Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo durou pouco mais de ano e meio. Na semana passada, o presidente do município Paulo Langrouva destituiu António Morgado da vice-presidência, a quem também retirou todos os pelouros, e nomeou o vereador Nelson Bolota para o lugar.
O despacho, com data de 4 de junho, a que O INTERIOR teve acesso, justifica a troca de cadeiras com o facto de António Morgado ter tomado posições ao longo do mandato que «refletem um claro distanciamento político e não permitem a manutenção da confiança nele depositada pelo presidente da Câmara». Segundo apurou O INTERIOR, um dos motivos terá ficado a dever-se, alegadamente, ao facto do até agora vice-presidente ter assinado cheques referentes a apoios para associações e coletividades numa altura em que o presidente estava ausente do município por se encontrar no estrangeiro. A destituição entrou em vigor no dia seguinte, sendo que a partir dessa data o ex-vice-presidente da autarquia passou a exercer funções de vereador em regime de não permanência e «sem estar em regime de meio tempo». De resto, a fechadura do seu gabinete foi mudada rapidamente.
Assim, desde dia 5 que Nelson Bolota, que assumiu alguns dos pelouros do seu antecessor, é o único vereador a tempo inteiro no executivo. Uma opção que o presidente justificou no despacho alegando que «a experiência acumulada desde o início do mandato permite concluir pela desnecessidade da existência de dois vereadores em regime de permanência. Na prática, o eleito pelo PS tem um estatuto equiparado ao dos dois vereadores do PSD, António Edmundo e Sandra Monique Pereira. O caso mais sonante de dissonância entre Paulo Langrouva e António Morgado aconteceu em junho do ano passado, quando o então vice-presidente da Câmara votou contra a proposta do presidente relativa ao plano de dissolução da empresa municipal Figueira Cultura e Tempos Livres, que previa a internalização dos serviços na autarquia, mas não dos 59 trabalhadores.
Dois meses depois, António Morgado absteve-se na votação do mesmo documento – que previa a internalização dos serviços e de 25 funcionários pelo período de um ano – e obrigou o presidente a usar o voto de qualidade para fazer aprovar a dissolução da empresa municipal e evitar uma inoportuna derrota política num executivo em que está em maioria. O INTERIOR tentou contactar por telefone Paulo Langrouva e António Morgado, mas ambos não atenderam nenhuma das chamadas até há hora do fecho desta edição. Em setembro de 2013, a lista liderada pelo economista Paulo Langrouva, antigo secretário do edil António Edmundo, que se recandidatava a um terceiro mandato, reconquistou para o PS um município que tinha sido perdido em 1997 para os sociais-democratas. Os socialistas ganharam na maioria das freguesias e obtiveram 56,62 por cento do votos (2.552), elegendo três vereadores contra dois do PSD que se ficou pelos 38,67 por cento (1.743 votos). Quatro anos antes, António Edmundo tinha ganho com 55,42 por cento (2.652 votos).
Luis Martins