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Hora de inverno

Na madrugada do último domingo de Outubro, seguindo instruções, atrasámos os relógios uma hora. No dia seguinte, depois de termos dormido mais uma hora, demos conta de que às cinco da tarde já era noite. Deixem-me agora insistir neste ponto: a hora de inverno serve para poupar energia e tem todos os anos como primeira consequência importante acendermos mais cedo à luz à noite. Seria agora que eu daria uma boa explicação para este paradoxo, mas infelizmente não tenho nenhuma para dar. Pela parte que me toca, a hora de inverno leva-me a gastar mais electricidade. Torna-me também menos produtivo já que a escuridão, enviando-me um sinal silencioso de que o dia de trabalho acabou, me manda para casa uma hora mais cedo. Esta alteração é má também para a saúde, que o corpo não gosta destas mudanças artificiais de rotina. É como se nos fosse imposto, por via administrativa e duas vezes por ano um pequeno “jet lag”.

Os americanos adoptaram a hora de inverno (e de verão) depois de nós, europeus, apesar de reivindicarem a sua “invenção” por Benjamin Franklin. Na Califórnia, há pouco tempo, fizeram-se as contas e concluiu-se que, na melhor das hipóteses, as mudanças artificiais da hora traziam uma poupança de tão só 0,18% na factura da electricidade. Já um estudo da universidade de Yale concluía que a hora diurna extra no verão implicava um consumo suplementar de electricidade com ar condicionado, implicando, tudo somado, um prejuízo. Mas há mais: ninguém notou uma diminuição, mesmo pequena, na factura da electricidade.

Porquê então isto? Em Portugal a resposta é fácil: é porque os alemães mandaram. Na Alemanha não sei. Pode ter a ver com a sua aversão ao sol e aos prazeres da vida, ou com o simples e evidente facto de procurarem por todos os meios dificultar a vida aos povos do Sul, mas poderá haver outras explicações. Uma vez, uns cientistas meteram um grupo de macacos numa jaula e fizeram com que, quando um deles tocasse em determinado sítio, os outros levassem um banho de água fria. A partir desse momento, quando um dos macacos se aproximasse desse sítio os outros batiam-lhe. Os macacos iam rodando e houve um momento em que, mesmo não havendo já banho de água fria e nunca o tendo levado qualquer dos habitantes da jaula, os macacos batiam mesmo assim naquele que se aproximasse do lugar fatídico – sem por isso saber porquê.

Seria bom que de vez em quando se reavaliassem as experiências a que nos submetem ou que, pelo menos, nos fornecessem as conclusões a que chegaram. Alguém sabe se esta macacada tem valido a pena?

Por: António Ferreira

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