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Política, propaganda e outras porras que tais…

Crónica Política

O profeta da desobediência civil e libertária, Henry Thoreau, numa das suas obras, chamou a atenção para o facto de que «Os homens hão-de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno». Vem isto a propósito da mui delicada situação em que se encontra a ULS da Guarda e da forma como os seus novéis responsáveis vêm publicamente lidando com o assunto.

No hospital da nossa cidade acontecem coisas que, às vezes, parecem do outro mundo. Há utentes que se levantam de madrugada para apanharem o único transporte que têm. Assim, chegam ao hospital bem cedo, antes das 9 horas. Mas como a sua consulta está agendada apenas para o período da tarde, só podem “tirar a senha” ali por volta do meio-dia. Entretanto, competem por um assento que nunca chega para todos.

Depois de tirada a senha, têm de aguardar por uma inscrição administrativa na consulta, o que só sucede depois das 13 horas, com uma funcionária que chega a tomar conta de quatro guichés! Depois, é só esperar que o médico os chame, se não estiver a acumular funções com outro serviço qualquer. E claro que no fim há sempre alguns doentes que ficam para últimos. Atendendo a que muitos destes utentes são pessoas idosas, com todo o tipo de doenças, limitações e angústias pessoais, o cenário de uma longa espera não é coisa de que nos possamos orgulhar.

Até admito que o senhor presidente da ULS, que gosta de dar umas entrevistas todas jeitosas, nem tenha conhecimento deste problema. Mas no universo das nomeações de caráter político, como foi a sua, não é pelas lacunas, involuntárias ou não, que se avaliam as pessoas. É pelas presenças, quando ocorrem, que se descobre a careca a quem gosta de falar de mais e de mostrar aquilo que não existe.

Para nossa desgraça, ficámos a saber, através duma notícia publicada há dois dias no “Correio da Manhã”, e passo a citar, que o nosso «Hospital opera sem segurança». Sim, é mais uma vez, pelas piores razões, o nosso hospital a andar nas bocas do mundo.

A história é simples de contar: aparentemente um certo serviço da ULS foi gerido, nos últimos anos, com recurso a níveis tão elevados de incompetência que, por essa simples razão, está há uma porradona de tempo sem diretor de serviço. O que aliás sucedeu também, só que mais recentemente, com outros serviços da ULS, por razões que ainda ninguém percebeu. Se a moda pega…

O resultado foi que a Ordem dos Médicos, que até é uma das entidades mais corporativas que se conhece, teve de encontrar coragem para autenticar o «mau ambiente de trabalho e a má qualidade de serviço», proibindo expressamente os médicos desse tal serviço de procederem a determinado tipo de operações! Onde é que isto já se viu?

Contra esta evidência absolutamente esmagadora, veio o presidente da ULS contrapor que a taxa de complicações nesse tal serviço é afinal «normal», argumentando que em 4.004 intervenções efetuadas num ano foram afetados «apenas» 165 doentes.

O senhor presidente da ULS da Guarda é matreiro. Não explicou que as 4.004 intervenções decorrem da atividade de todos os serviços da ULS e não só do serviço em causa! Esta desonestidade intelectual, destinada a diluir falaciosamente a elevada percentagem real de complicações “daquele” serviço específico, demonstra que o atual presidente da ULS não é muito diferente dos que o antecederam. Se há alturas em que o silêncio é de ouro, esta teria sido, para o senhor presidente da ULS, uma delas.

Esta tendência para o disparate não augura nada de bom. Pelos vistos, o senhor presidente da ULS ainda não compreendeu que as pessoas da Guarda, escaldadas como estão com Girões, Anas Mansos e outros que tais, há muito que perceberam que a estratégia de qualquer demagogo consiste em fazer-se passar por tão estúpido quanto a sua plateia, na esperança de que esta imagine ser tão esperta quanto ele.

Valha-nos Deus!

Por: Jorge Noutel

* Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal da Guarda

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