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2013, o ano do nosso martírio

Crónica Política

Caro leitor, nos tempos que correm tenho-me lembrado muitas vezes da minha música preferida de Zeca Afonso “O Menino do Bairro Negro”. É um poema triste, com uma música pesada e esta minha preferência era algo que nunca tinha conseguido explicar muito bem.

Tem-me vindo à memória porque o nosso país está transformado num enorme “Bairro Negro”, algo que eu, já nascido em liberdade, nunca pensei ser possível.

A pergunta que muitos fazem é “Como aqui chegámos?”, na minha opinião esta não é uma pergunta muito interessante, porque os culpados somos todos, mas no que toca aos partidos políticos todos têm responsabilidades, uns porque estiveram nos Governos, outros porque nunca foram uma alternativa credível.

Mas a infeliz realidade é que estamos onde estamos e precisamos sair daqui. A pergunta que se impõe é se estamos a ser bem conduzidos nesse nosso objetivo coletivo, e a minha resposta é que não estamos.

O ano que agora termina ficará na história, na minha opinião, não pelas dificuldades, porque somos um povo de lutadores habituados a ultrapassar os obstáculos, mas pela completa incapacidade de quem nos Governa de traçar um rumo que nos possa tirar desta crise que a todos afeta.

Este foi o ano em que, com completa irresponsabilidade social, económica e até mesmo financeira, se matou a esperança do país melhorar a curto prazo.

Tal como na letra da música, também no Portugal de hoje, o “menino sem condição” é uma realidade que aumenta a olhos vistos. Esta é a nossa realidade, mas o Governo do nosso país age de uma forma completamente indiferente aos sacrifícios impostos aos cidadãos.

Prova do que digo é o Orçamento de Estado para 2013.

O Governo do PSD/CDS matou qualquer esperança de um ano melhor ao fazer aprovar o pior Orçamento de Estado de que há memória. As propostas são a clara aposta na continuação de um conjunto de medidas que já demonstrou não ser capaz de resolver os problemas.

Esta não é uma opinião meramente pessoal, ou até mesmo partidária, faça o caro leitor um pequeno esforço de memória e lembre-se de tudo o que foi dito sobre este assunto por economistas e até mesmo por antigos líderes do PSD.

Começo 2013 verdadeiramente preocupado, não com a economia ou com as finanças, mas com as pessoas. Não sei até quando os portugueses irão conseguir aguentar a carga que lhe está a ser irresponsavelmente imposta e, mais uma vez, tal como na letra da música, “onde não há pão/não há sossego”. Temo que nos comece a faltar o sossego, porque o pão, esse, infelizmente, já falta a muitos de nós.

O ano de 2012 foi o ano em que o Governo da República declarou guerra aos portugueses e à economia nacional em nome das finanças e dos interesses estrangeiros. Não contente, já anunciou o intensificar dessa guerra em 2013. Mas nem assim a situação melhora porque todas as entidades externas já declaram não acreditar que Portugal consiga cumprir as metas. Só os obstinados Coelho e Gaspar, e um conjunto de acólitos a quem esta crise passa ao lado, por estarem comodamente sentados em poltronas douradas, onde os efeitos das medidas que executam não chegam a sentir-se, acreditam que estamos no bom caminho.

Mudando de assunto, porque não poderia deixar de o fazer.

Quando vos escrevo esta crónica ainda não está disponível no site do Parlamento o “Diário da Assembleia da República” da sessão plenária de 21 de dezembro. No entanto, e correndo o risco de cometer alguma imprecisão, não posso deixar de realçar a presença nessa sessão do sr. deputado João Prata, não posso também deixar de realçar que votou a favor da extinção de 12 freguesias do concelho da Guarda, entre as quais a freguesia de São Miguel da Guarda. Depois de tudo o que li e ouvi ao sr. deputado/presidente de Freguesia fico na dúvida se estamos perante um complexo caso de incoerência (só possível de quem faz da política um circo) ou perante um simples caso de bipolaridade (política, claro está). Chego mesmo a questionar-me sobre o que dirá João Prata (o presidente de Junta) a João Prata (o deputado) sobre o fecho da Junta de S. Miguel.

Nesta altura do ano não podia deixar de terminar esta minha crónica com o desejo sincero de que o ano de 2013 seja o melhor possível, infelizmente vejo-me na impossibilidade real de vos desejar um Bom Ano de 2013 face ao desgoverno em que o nosso país se encontra.

Por: Nuno Almeida

* Presidente da concelhia do PS da Guarda

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