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Ilusão ótica

«A Câmara Municipal da Guarda instalou hoje uma horta no jardim do telhado do edifício dos Paços do Concelho, com as espécies hortícolas ali produzidas a terem como destino o consumo no refeitório da autarquia»

Fazendo a análise da notícia publicada, e não de forma leviana ou derrotista, é preciso dizer que este espaço de envolvente arquitetónica designado como jardim há muito estava transformado em horta, pois as espécies de plantas de jardim ali plantadas não resistiam às fortes geadas no inverno e à exposição solar no verão por força da sua localização, no todo do edifício, não ter sido muito feliz. Assim, já ali existia uma horta com plantas e ervas aromáticas, algumas cebolas, courgetes e alfaces que serviam para o consumo do refeitório da autarquia, contudo isto não era notícia, não foi apresentado sequer como projeto de sensibilização por nenhum ilustre do executivo, fazia-se num critério de aproveitamento quase experimental, achava-se piada mas sem alarido público político.

A questão aqui é não só de ordem técnica, mas também de ordem política, vejamos: de ordem técnica, como se podem estimar os lucros de consumo dos produtos que irão ali ser cultivados, apresentados pelo executivo em cerca de 5 mil euros ano, sem serem apresentados os custos dos mesmos, tais como fertilização da terra, água para rega, impermeabilização do solo, pois estamos a falar do segundo andar – telhado do primeiro andar do edifico. Dizer ainda que esta impermeabilização é bastante cara e deve ser reaplicada de 4 em 4 anos, isto é, não dura para sempre. Assim, de 4 em 4 anos, tem que ser removida toda a horta para se colocar nova impermeabilização e depois voltar a semear, plantar e esperar para se cultivar, sim porque semear batatas não é o mesmo que ter ervas e plantas aromáticas… Mas, partindo do pressuposto que esta horta/jardim é apenas um ato simbólico de motivação da população que frequenta o edifico dos Paços do Concelho e de todos os seus funcionários, cheira-me mais a estratégia política, mas de principiantes ou mesmo de desesperados políticos que não sabem ou já não têm cabimentação financeira para fazerem alguma coisa.

Lamentável é que se dê visibilidade à mediocridade, não do espaço, mas do que se pretende fazer passar para a população guardense, assim nos vêm os políticos que nos governam por cá. Também como política deixo algumas dicas para estes senhores do PS, que já apresentam um cansaço considerável, pois tenho pautado a minha intervenção não por alertar o que está mal, não para afirmar o quanto se gasta e a forma injusta como se têm tratado pessoas e instituições, mas também apresentando algumas soluções não só de recuperação financeira, mas também para o desenvolvimento local. Assim, esta medida poderia ter sido mais arrojada politicamente e criativa para a motivação e sensibilização, tendo em atenção as nossas aldeias no nosso concelho que estão cheias de terras votadas ao abandono porque não existiu uma política agrícola de cooperativismo ajustada à nossa região e feita, em especial, para o escoamento direto do produto agrícola. Nesse sentido, a autarquia poderia comprar as batatas em Casal de Cinza, as cenouras nos Meios, os alhos em Gonçalo, as courgetes em Vale de Estrela, as cebolas no Seixo Amarelo, o tomate em Famalicão, as alfaces em Fernão Joanes, a salsa nas Panóias, as couves no Porto da Carne, as maçãs no Jarmelo, o azeite em Aldeia Viçosa e, claro, as cerejas na Mizarela.

Já agora porque não ativar os fornos históricos públicos das nossas aldeias para lá se cozer o pão, tudo isto para ser consumido no refeitório da autarquia. Esta não será uma melhor ideia? Esta não será uma verdadeira política de consumo do que é nosso, de valorização das terras e gentes votadas ao abandono? Fica bem mais barato, garanto! É verdade que dá mais trabalho, mas ajudamos à criação de riqueza e, quem sabe, ao despertar para a necessária reativação da nossa agricultura. Vamos lá sr. Presidente aposte, vale a pena, a Guarda merece e não se esqueça de nós, sim porque as batatas semeadas na horta também não se deitam à terra inteiras! Há técnica e saber para se fazer e as que foram semeadas não darão para mais de três refeições de cozido à portuguesa.

Não se esqueça de nós, não se lembre só nas eleições…

Por: Cláudia Teixeira

* Deputada do CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda

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