Há precisamente um ano e quatro meses escrevi um texto de opinião com o mesmo título. Por norma, só o escolho quando termino o artigo. Desta vez fiz ao contrário e tudo porque nada mudou ou, talvez melhor, quase nada. Escrevia eu então coisas disparatadas como «…porque nos faltam Homens Políticos, restando-nos os políticos que também são homens, mas este défice não atinge apenas o nosso país é uma epidemia que se instalou na Europa». E continuava escrevendo: «Nós portugueses, somos assim, calmos nos atos mas vivos nas palavras». Ou em relação aos casos de eventual corrupção que passavam então pelos tribunais (e ainda passam) constatava que «pelo meio ficam estilhaços das gravações de conversas, habitualmente tornadas públicas antes de serem destruídas». E em relação às políticas de investimento percebia-se que “no Interior pedimos mais investimento e desenvolvimento, sem sermos correspondidos e assim desertificamos e envelhecemos». Escrevia ainda que destas Beiras profundas e agora em extinção partiu para vários pontos do Globo muita da mão de obra e massa cinzenta, que permitiu que Lisboa e arredores crescesse e atingisse os níveis de riqueza que todo o País ambiciona, o que faz desta nossa região credora até à eternidade, (exagerado dirão).
Concluo eu que festejados (ou talvez não) dois fins de ano após ter escrito o texto, ele podia ser republicado sem alterar um único parágrafo, até porque nele já se anunciava a inevitável entrada do FMI, impondo uma série de reformas que levarão inevitavelmente a que o Estado pague a divida e Portugal recupere rapidamente o estatuto do mais pobre (mas honradinho), reduzindo os vencimentos, aumentando os impostos, assim como o desemprego, encerrando empresas, sem que antes não se tenha reduzido ou exterminado os compromissos sociais que os governos socialistas, à sua boa maneira, nos convenceram que todos tínhamos direito e, pior, nos convenceram que havia dinheiro suficiente para os sustentar. Claro que haveria dinheiro não fosse ter havido uma mudança de Governos. Claro que haveria dinheiro porque até então tínhamos governantes convencidos que os compromissos do Estado perante os mercados não eram para honrar. Em tempos idos mais alguém pensava assim.
A guerra ao desperdício instalou-se. O objetivo é a redução nos consumos entre 10 a 20 por cento. Organizam-se centrais de compras e criam-se linhas de orientação. Tenta-se que os fornecedores esmaguem as margens. A palavra de ordem no Estado é agora a poupança.
O que mais me irrita é que sabemos bem onde desperdiçámos, onde os crónicos desvios orçamentais ocorreram e que bolsos enchemos. Aqui também a história se repete. Entretanto há obras que não se terminam por falta de dinheiro e há gente que continua a comprar edifícios como se estivesse de bolsos cheios.
Por isso nada mudou, nada muda «porque afinal o mundo não é composto de mudança e claro que nunca, mas nunca, será de novo uma criança».
Por: João Santiago Correia