Apesar da proximidade geográfica, as zonas da Guarda e Salamanca têm gastronomias bem distintas. Posto isto, os restaurantes Aquariu’s e Palacio Prado repetiram na cidade mais alta a semana gastronómica que promoveram do outro lado da fronteira. Até ao último domingo, o restaurante da Guarda apresentou receitas e vinhos espanhóis.
Além da chanfana com arroz de miúdos de cordeiro ou do próprio cordeiro de leite, Gaspar de Castro, chefe de sala do Palácio Prado, em Salamanca, destaca a aceitação das batatas meneadas. «É um prato que se come nas herdades quando se marca o gado. O ganadeiro convida os seus amigos e juntos fazem as batatas com toucinho de porco», explica. A esta tradição gastronómica junta-se o leitão assado, por exemplo. «É muito pequeno, com bastante febra e pouca gordura. Depois de assado, o leitão é cortado com um prato que se parte a seguir», revela Jorge Silva, gerente do Aquariu’s. O chefe Daniel Hernandes, responsável pela cozinha do Palacio Prado, realça que, «em Portugal, trabalha-se mais com guisados, enquanto em Espanha assamos mais. Os nossos pratos são um pouco mais complexos e aqui as elaborações são mais simples». Apesar das diferenças, o facto da Guarda e Salamanca estarem em zonas agrícolas promove, desde logo, um ponto de encontro. «São os produtos da terra, o cordeiro, o leitão, a caça, os legumes. Fiquei agradado com a frescura do produto, os produtos novos e as técnicas», confessa o chefe.
Nos vinhos, Minerva Roman, escanção do restaurante salamantino, sustenta que, apesar das castas terem correspondência dos dois lados da fronteira, «o clima, o solo, a mão do homem mudam as suas características». Tanto assim que, «em Espanha, são um pouco mais ácidos, enquanto que em Portugal têm mais corpo», refere. O seu destaque vai para o Quinta Quietud Toro (um reserva muito potente, para acompanhar carnes muito fortes), ou o Abadía Retuerta 2004 (a colheita de 2001 proporcionou o melhor vinho do mundo no International Wine Challenge de Londres). Contudo, houve vinhos de mesa de todas as províncias de Castilla y León, mas também licores, moscatéis e aguardentes, para provar. É que vinhos e ementas foram pensados de forma económica, para que pudessem ser aproveitados pelo maior número de pessoas. «Ganha-se na divulgação da nossa zona, da nossa cidade e de tudo o que temos», considera Jorge Silva. Depois desta experiência, o empresário guardense espera envolver mais restaurantes na próxima edição.
Igor de Sousa Costa