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Gente perfeita para tarefas menores

Bilhete Postal

A exigência de Maria Rita é inigualável, ela quer um varredor de lixo diligente, adequado à função e sobretudo letrado, quer que o empregado de mesas fale quatro línguas, exige ser atendida seja onde for mal entra a porta, tem urticária se a cabeleireira não cita filósofos, e detesta que os mecânicos tragam óleo na roupa. Insuportável é como identifica os canalizadores de bota suja, os pedreiros com pó na roupa. Maria Rita não conhece umbigos com catarro, não imagina o cheiro dos pés alcoolizados, não consegue conceber as pessoas que lavram o campo, que suam do trabalho. Maria Rita vê programas de TV com gente impossível, com conteúdos improváveis, delicia-se com o Castelo Branco e a Bobone e acha tudo aquilo finíssimo. Acrescentou uns cobres da herança do marido à do emigrante com quem agora vive e descobriu como a exigência e a petulância daqueles entrevistados, que simultaneamente se entrevistam uns aos outros, em televisões que ninguém sabe como sobrevivem, podiam ficar bem no seu dia-a-dia. Agora exige tudo e escreve nos livros amarelos por onde vai. Mal sabe escrever, mal sabe o que quer dizer e, no entanto, rabisca por todo lado. Ontem escreveu no Hospital onde mostrou uma borbulha e no restaurante onde não tinham quindins. Ultimamente quer água importada da Holanda – viu a uma estrela que actuou na Casa da Música. Maria Rita tem a síndrome da exigência direccionada para fora. Não trabalha, não tem qualquer rentabilidade, não ajuda ninguém. A sua profissão é exigir e aborrecer o próximo.

Por: Diogo Cabrita

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