O Projéc~, a estrutura de produção teatral do Teatro Municipal da Guarda (TMG), apresenta desde ontem a sua sexta e mais recente obra, a partir de um texto original de Manuel Poppe. O público ainda pode ver “Os Sobreviventes” hoje e amanhã no pequeno auditório.
Em palco, Esmeralda e Gabriel – encarnados por Dora Bernardo e João Miguel Melo – apresentam a sua trágica história. «Uma história de amor», descreve o encenador Américo Rodrigues, mas um «amor excessivo, delirante, interrompido, confuso, traído, promíscuo, louco». Desde a infância que esse amor existe entre os dois personagens. Com o passar do tempo, um deles assume a sua homossexualidade, enquanto que o outro se revela heterossexual, mas nenhum se esquece do seu amor de criança. Entre ambos gera-se então um fosso de solidão, de medo e de fuga, à semelhança dos tempos que correm, alimentado por aquele amor. Américo Rodrigues diz que se trata de «uma história simples», mesmo assim, com as palavras a servirem de «setas, lâminas, golpes, gestos, feridas, cuspo e sangue» e, acima de tudo, aquilo que verdadeiramente são: ar. Apesar da selvajaria, do silêncio, da acalmia e da violência com que os protagonistas se atacam, ambos têm a noção de que estão perdidos e de que se querem encontrar.
Mais que o amor, Manuel Poppe destaca precisamente a morte do amor, a solidão, o medo e a fuga do nosso tempo. «A história de Esmeralda e Gabriel ilustra essa tragédia», refere o escritor, que ouve «um grito desesperado» no encontro dos dois personagens, naquela que é «a derradeira esperança». Uma esperança que reside no confronto entre ambos, «mas nunca chega a ser consumada». O espectáculo de teatro físico conta ainda com assistência e cenografia de Zigud. No âmbito deste espectáculo, na passada terça-feira foi apresentado o livro “Os Sobreviventes”, editado na colecção de Cadernos TMG. Trata-se do texto da peça homónima.
