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«Vivemos num país que tem pouco respeito pelos animais»

Cara a Cara – Entrevista

P- Como correu a primeira Campanha de Adopção de Animais, promovida recentemente pel’”A Casota”?

R- Foi a primeira iniciativa levada a cabo pela associação desde a sua refundação. Conseguimos que fosse adoptada a cadela mais “problemática” que estava no Canil Municipal e que ia ser abatida dentro de dias. No dia 24 de Maio estivemos no Parque Urbano com uma série de animais do Canil. Como é sabido, se não forem reclamados ou adoptados, esses animais acabam por ser abatidos ao fim de algum tempo. Quisemos mobilizar as pessoas, no sentido de as alertar para o facto de existirem animais abandonados, à procura de um dono, mostrando-lhes que o Canil da Guarda tem uma grande quantidade de animais que podem ser recolhidos e tratados. O nosso objectivo maior é fazer com que nenhum animal tenha de ser abatido. Infelizmente, não tivemos grande adesão por parte das pessoas – o tempo também não ajudou. Penso que, por enquanto, a maioria ainda não está sensibilizada para estas questões. Não há uma grande motivação em relação à protecção dos animais, as pessoas preocupam-se muito com as crianças, os idosos – o que é legítimo e louvável – mas dão, depois, muito pouca importância aos animais.

P- Apesar de ter começado a funcionar há pouco tempo, a “A Casota” existe há mais de 20 anos. O que motivou este “renascer”?

R- Houve uma altura em que esteve um pouco “adormecida”, porque a associação foi fundada por um grupo de pessoas já com alguma idade e que foram envelhecendo ou desaparecendo. Acabou por se gerar alguma desmotivação, até que este ano conseguimos reunir um grupo de pessoas que percebeu a necessidade da reabilitação de uma associação com este cariz.

P- Portanto, fazia falta uma Associação de Protecção aos Animais na Guarda?

R- Faz imensa falta. Aliás, vivemos num país que tem pouco respeito pelos seus animais. Tenho amigos estrangeiros e um deles disse-me, uma vez, que se conhece Portugal pelo número de cães abandonados e “esmagados” nas estradas. E isto é revelador da importância que se dá aos animais. Acontece muitas vezes que pessoas que têm um cão há sete ou oito anos, o vão entregar ao Canil porque está velho e vai morrer e a família já não está para o “aturar”. Isto é de uma falta de sensibilidade constrangedora. Na Guarda também se vê muita coisa: há quem abandone ninhadas de cachorros. A este respeito já citei várias vezes uma máxima de Gandhi: “A evolução de um país conhece-se pela forma como trata os seus animais”.

P- “A Casota” já angariou quantos sócios?

R- Cerca de 200.

P- O que faz com que os animais necessitem de ajuda, na maioria dos casos?

R- Temos, sobretudo, cães abandonados. Por outro lado, aparecem inúmeros casos de cães de caçadores, particularmente nos meses de Janeiro e Fevereiro. São animais que foram pela primeira vez à caça e fugiram do tiro, que não foram recolher a caça ou não identificaram os animais e, como tal, não servem. Depois, há cães rafeiros, muitos deles filhos de cadelas vadias que vão sobrevivendo. E há os cães de luxo, o animal que é dado à criança no dia de anos e no Natal. Chegada a altura do Verão, o cãozinho cresceu, dá trabalho e não tem lugar para ir nas férias.

P- Aliás, o acolhimento de animais durante o período de férias é umas das actividades que vão promover…

R- Existe a intenção de criar um local de recolha de animais nas férias para obstar ao seu abandono, onde as pessoas os possam deixar mediante o pagamento de um valor simbólico. Mas há tanta coisa para fazer! Por exemplo, é necessário criar brigadas que identifiquem grupos de cães abandonados para que possam ser ajudados. Desejamos, por outro lado, que nos fosse dada a prerrogativa de tratar os animais que são recolhidos no Canil Municipal. Deste modo, poderíamos reduzir o número de abates. Outro dos nossos objectivos passa por promover “apadrinhamentos”. Há muita gente que gosta de animais e não os pode ter em casa, por uma série de razões. Queremos dar-lhes essa possibilidade, apadrinhando um cão ou um gato e contribuindo para a sua vacinação, alimentação e desparasitações.

P- Como se pode contribuir para ajudar “A Casota”?

R- Desde logo, fazendo-se sócio. A quota mensal é de apenas um euro. Por outro lado, estamos a tentar fazer parcerias com a Câmara Municipal e outras instituições e entidades que estejam interessadas em ajudar. A Câmara, como é óbvio, não tem vocação para tratar de um Canil – terá de o fazer porque decorre da lei – e por isso uma parceria com uma Associação de Protecção de Animais só traria vantagens de parte a parte. Há, inclusivamente, algumas instituições que já nos contactaram, como a CERCIG, para estabelecer projectos de cooperação. Além disso, aceitamos (e precisamos) de todo o tipo de contributos e donativos, desde ração a cobertores ou brinquedos para os animais.

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