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Quando a Europa chega ao interior

UBI e IPG acolheram, este ano, 178 estudantes no âmbito do programa Erasmus

Verdadeiros viajantes em espaço comunitário, os estudantes do programa Erasmus chegam a Portugal à procura de novas experiências e de uma cultura diferente. Na região, a Universidade da Beira Interior (UBI) e o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) acolhem, anualmente, dezenas de jovens estrangeiros. Trazem apelidos e sotaques diferentes e procuram, além de aprender a ser português, uma experiência fora de portas que, nalguns casos, pode ser uma janela de oportunidades.

Há 20 anos que o IPG integra a rede Erasmus. Este ano, a instituição recebeu 39 estudantes, de locais tão diversos como Espanha, Lituânia, Letónia, Polónia ou Turquia. Fora de Portugal estão ainda 16 alunos do Politécnico, distribuídos pela Letónia, Polónia, Espanha e Itália. No regresso a casa, os estudantes de Erasmus levam uma panóplia de histórias para contar. Sara Gallardo tem 25 anos e chegou à Guarda há nove meses para frequentar o curso de Gestão. A escolha do IPG foi quase inevitável, já que Portugal era o único destino disponível este ano na Universidad de Extremadura. Nos últimos meses correu o país de Norte a Sul. «Mas sem dúvida que o local de que mais gostei foi o Porto», revela. Da Guarda, nem por isso: «A cidade é pequenina e faz muito frio», justifica. Ainda assim, «a escola e os professores são óptimos e as gentes generosas e hospitaleiras», acrescenta. As primeiras expressões que aprendeu em português foram, no mínimo curiosas, ainda que previsíveis, como “não percebo” e “mais devagar”. Mas isso foi no início, porque a adaptação foi fácil: «Não há grandes diferenças entre os dois países», considera. Entretanto, dentro de poucos meses, Sara vai regressar a Espanha e com «saudades de tudo».

Duas semanas na Guarda é o tempo que resta a Yunus Akyürek, da Universidade de Sakarya. Aos 26 anos, o turco embarcou na aventura Erasmus, mas agora é chegada a hora de regressar ao país de origem: «Tenho que ir, porque sinto muita falta da Turquia», garante. «A Guarda é uma cidade mesmo muito pequena e demasiado sossegada para mim, que venho de Instambul», continua. De Portugal, já conhece Lisboa, Coimbra e o Porto. Mas do que mais gosta é mesmo do vinho do Porto. «O tinto», apressa-se a explicar, com a retórica de quem já está por dentro da cultura portuguesa. No IPG, «os professores são óptimos, mas acho que deveriam aprender a falar inglês… É que para mim foi realmente complicado aprender alguma coisa», lamenta. Dentro em breve, as saudades da família, do famoso kebap – comida típica – e de Instambul vão ser substituídas pela falta «dos amigos que fiz em Portugal», sublinha.

UBI acolheu 139 “viajantes”

A UBI começou mais tarde a receber alunos estrangeiros, apenas desde 1996. Chegados à Covilhã, os estudantes têm a possibilidade de frequentar cursos de português gratuitos, organizados pela universidade desde 2001. Este ano, entre 28 de Julho e 29 de Agosto, eles estão de volta para 45 estudantes, por enquanto. Neste ano lectivo a Covilhã serviu de casa a 129 alunos estrangeiros, da República Checa, Espanha, França, Itália, Polónia, Roménia e Eslovénia. Distribuídos por 11 países da Europa estão, por outro lado, 123 alunos da UBI.

Marlena Makowska viveu um ano na cidade, onde estudou Química, e está agora de partida. As referências que leva da Covilhã não poderiam ser melhores: «É um local calmo, muito bom para estudar, barato e onde as pessoas são muito educadas e interessantes», refere. Da UBI, diz ser uma instituição «com excelentes professores e equipamento moderno». De negativo, a polaca ressalva a falta de oportunidades de emprego, «pelo menos na área da Química». Desde Setembro que a futura arquitecta Azurra Proietto está na Covilhã. Tempo de sobra para falar português quase na perfeição. As aulas, no segundo semestre, deram “uma mãozinha”. Mas aquilo que mais ajudou esta italiana foi viver com outros portugueses – «é a maneira mais fácil de aprender os costumes e a língua», assegura. Considera, porém, que não há grandes diferenças entre Portugal e o seu país. É que, hoje, «a Europa é um espaço muito homogéneo», acredita. Quanto à UBI, Azurra afirma não ser muito diferente da Universitá Degli Studi di Roma “La Sapienza”. Excepto ser mais pequena, «o que permite maior contacto entre professores e alunos», destaca.

A estudante está em Portugal até 3 de Julho, mas, como as saudades já são muitas, tem programada uma nova visita, de uma semana, lá para Setembro. Em Itália está Giuseppe Marrella, de 21 anos. Durante um ano frequentou o curso de Engenharia da Produção e Gestão Industrial. «A Covilhã é uma cidade óptima para morar, longe do barulho das grandes cidades», refere. O sossego foi, de resto, a principal diferença que encontrou «e o que mais me apaixonou», acrescenta. De Portugal levou a saudade – palavra tão portuguesa – «das pessoas, dos bolos, do sol e dos muitos lugares que visitou» graças aos passeios organizados pelo curso intensivo de português. E Giuseppe garante que fala «muito bem» a nossa língua: «Obtive três certificados e a primeira palavra que aprendi foi “saldos”», ironiza.

Rosa Ramos

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