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O que está a falhar redondamente? *

Fiquei profundamente sensibilizada com a crónica “Era uma vez uma árvore”, publicada na edição do passado 10 de Abril de O INTERIOR. Muito me comoveu e surpreendeu o facto de a nossa juventude ser tratada nas páginas deste jornal como «putos bêbados» e «besta em idade escolar».

Pergunto se será apenas hoje que as gerações mais jovens praticam actos menos correctos ou se, todos nós cometemos, enquanto jovens, actos menos próprios e que foram desculpados, pelos mais velhos, pela nossa imaturidade…

De facto, penso que mal anda a sociedade que «…leva um jovem a não respeitar a natureza, quando isso lhe é ensinado na miríade de disciplinas que ele frequenta…», mas pior anda a sociedade em que as gerações mais jovens são tratadas na praça pública desta forma por aqueles que supostamente lhe deveriam dar um voto de confiança. E pergunto: o que leva um adulto a não ter qualquer condescendência com este tipo de erros? «O que está a falhar redondamente?».

* Título da responsabilidade da redacção

Anabela Fernandes, carta enviada por email

Resposta de José Carlos Lopes:

Quando a senhora refere: «O que leva um adulto a não ter qualquer condescendência com este tipo de comportamentos? O que está a falhar redondamente?», digo-lhe que o que falha, em primeiro lugar, é a sensação de impunidade com que se cometem este (vandalizar uma árvore) e outros atentados ao bem público e privado; em segundo lugar, falham pessoas como a senhora e outros intervenientes no processo educativo e legislativo, que terão a mesma visão de “deixa andar” que nos querem fazer crer que deverá ser a regra.

Sou professor, com muito orgulho e penso ter uma boa relação com os meus alunos, mas eles também sabem que nunca lhes admitiria comportamentos, lesivos, deste ou de outro tipo. No que diz respeito às expressões, “besta em idade escolar” e “putos bêbados”, a expressão “putos” é um sinónimo de “miúdos”, ou acha que a expressão “jovens alcoolicamente alegres” teria o mesmo impacto? Por outro lado, que nome chamaria a alguém que lhe estivesse a vandalizar o carro ou a casa? “Amável destruidor?” No entanto as expressões são, propositadamente fortes, quando em conjunto, pois permitem separar “estes” dos “outros”, dos que cumprem, dos bem-educados pelos seus pais e professores, dos respeitadores do bem público e privado. Espero que nunca um puto meu tenha atitudes como as daqueles putos. Se as vier a ter e a senhora o vir, não tenha qualquer condescendência com eles, porque eu também não irei ter.

Agradeço o seu contributo pois, o melhor que pode acontecer a um artigo é este não ser indiferente aos olhos dos leitores e acabar por contribuir para uma saudável troca de opiniões. Volte sempre. Respeitosamente.

José Carlos Lopes

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