A crise bateu à porta da sede-mãe da Dura Automotive nos Estados Unidos, que emprega na Guarda cerca de 170 trabalhadores. No passado dia 7, a empresa de componentes automóveis solicitou ao tribunal protecção contra credores, ao abrigo do Capítulo 11 da lei de falências norte-americana, após mais de 1.300 milhões de dólares de dívidas vencidas. Mais uma péssima notícia para a cidade, após o anunciado despedimento de 570 operários da Delphi.
De acordo com as agências noticiosas Reuters e Associated Press, a Dura terá chegado a acordo com os principais credores e está em vias de ver aprovado um plano de reorganização que lhe permitirá sair da alçada da lei sobre falências. Esse acordo vai implicar uma apresentação em tribunal, estando a primeira audiência marcada para o início de Abril. Segundo o mesmo artigo, também a Delphi pode estar à beira de conseguir um acordo no seu processo de falência. Por enquanto ainda não são conhecidas as implicações da situação da Dura nas suas duas unidades a laborar actualmente em Portugal, no Carregado e em Vila Cortês do Mondego, a uma vintena de quilómetros da Guarda, onde ocupou as instalações da antiga Femsa. Mas tudo indica que esta última não deverá ser afectada. Contudo, a redução de postos de trabalho ou o eventual fecho da fábrica são cenários a ter em conta daqui para a frente. Até à hora do fecho desta edição, O INTERIOR não conseguiu obter uma reacção da administração portuguesa da Dura.
Processo disciplinar a sindicalista
Entretanto, um elemento das Comissões Sindical e de Trabalhadores da unidade de Vila Cortês do Mondego foi alvo de um processo disciplinar por ter questionado a política de contratação da empresa. Tudo por causa da forma como a Dura «contrata e despede» pessoas através de firmas de trabalho temporário. «Em Dezembro foram despedidos alguns, mas em Janeiro regressaram quase todos, um dos quais para uma secção diferente daquela em que trabalhava. Como esse posto estava afecto a um dos dispensados, que não foi chamado, apesar do seu currículo de bom e eficiente operário, quis saber quais os critérios de admissão», adianta a delegada do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra (STIMMDAVGC). A resposta veio do responsável de fabricação, segundo o qual era à empresa que cabia escolher quem empregar.
«Disse-me que optaram pela trabalhadora e ponto final, mas concordou que eram ambos bons funcionários», acrescenta a sindicalista, que terá então respondido que «a escolha foi pelas caras». Aparentemente, esta afirmação estará na origem do processo disciplinar, já que aquele superior alegou ter sido posta em causa a sua «idoneidade pessoal e capacidade profissional». Quem não entende esta reacção é a delegada do STIMMDAVGC, que já conta 11 anos de serviço na Dura. «Penso que o objectivo é intimidar a Comissão, que tem feito um bom trabalho e conseguiu, recentemente, meter no quadro cinco trabalhadores contratados», desconfia. A trabalhadora, de 32 anos, que corre o risco de ser despedida com justa causa, nega ter abordado o superior com «ar agressivo e provocatório». Pelo contrário, afirma que o procurou enquanto elemento das Comissões Sindical e de Trabalhadores a propósito da política de contratação da empresa, que considera «injusta e ilegal» dado empregar trabalhadores com vínculos precários. Defende, por isso, que não pode ser despedida: «Se o for por uma coisa destas, escusa de haver trabalho sindical na empresa», sublinha.
Luis Martins