Inaugurado há menos de quatro meses, o Parque Urbano do rio Diz é agora ameaçado pela poluição fluvial. Nos últimos tempos foram detectadas várias manchas de óleos automóveis no caudal do rio, mas a sua proveniência permanece desconhecida. No entanto, os utilizadores também têm a sua quota parte de responsabilidade por causa das garrafas e sacos de plástico deixados no recinto.
Um levantamento de problemas ao longo do rio detectou «descargas clandestinas domésticas junto à nascente e em vários outros pontos», adianta Paula Escalda, engenheira do Ambiente na Câmara da Guarda. A estas situações juntaram-se algumas descargas de óleos, cuja origem tanto pode ser da lavagem das estradas, de descargas acidentais das oficinas ou até do centro da cidade, de onde partem algumas linhas pluviais que desaguam no rio Diz. Ainda assim, António Saraiva, director-executivo do PolisGuarda, salienta o trabalho de despoluição que tem sido feito «de modo a eliminar muitos dos pontos críticos». Uma acção insuficiente, contudo, para dar uma nova vida aquática àquele curso de água. «Será complicado integrar vida animal no lago, à excepção de alguns peixes mais resistentes. Primeiro devemos ver a qualidade da água durante um ou dois anos», considera Paula Escalda.
A eutrofização a que se tem assistido nos últimos tempos na zona montante do espelho de água é outra das responsáveis por essa situação. «O rio Diz tem pouco caudal e muitos nutrientes, acresce que ainda há muitas lamas no leito», constata a técnica. A isto soma-se a falta de movimento da água naquele local e o facto do lago estar instalado no curso de água e não paralelamente ao mesmo. Do ponto de vista técnico, «a eutrofização nunca é uma coisa desejável na água», esclarece Paula Escalda. Nesse sentido, essa situação poderá levar à perda de biodiversidade, a alterações na composição das espécies e, nalguns casos, gerar efeitos tóxicos. Dados desvalorizados por António Saraiva, para quem «algumas destas plantas servem, muitas vezes, como depuradoras de parte da poluição que ainda está naquela água». Para o director-executivo do PolisGuarda, o caso não só é inconsequente, como também é incontrolável: «Só poderíamos controlar essa situação se controlássemos totalmente a água que entra e sai do lago, o que não acontece», justifica. Por isso, estão agendadas duas operações de limpeza para as próximas duas semanas.
Obras em falta aumentam risco de inundação
Em 2006, as chuvas de Inverno alagaram as obras do Parque Urbano do rio Diz, que então decorriam. Agora, António Saraiva garante que a estrutura está preparada para chuvas mais intensas. «Com algumas ressalvas», acrescenta. Chuvadas anormais e o atraso de duas retenções de água a montante podem comprometer o recinto tal como está hoje.
O parque foi instalado numa zona de infiltração máxima, pelo que «os caminhos de saibro, relvados e árvores poderão ser inundados, se tivermos cheias como as do último ano. Mas são áreas que se repõem com uma simples lavagem», garante. Ainda assim, o arquitecto assegura que as cheias que se verifiquem não afectarão os edifícios, construídos acima das cotas de cheia dos últimos 100 anos. Contudo, duas infraestruturas previstas a montante controlariam o caudal do rio Diz, mas as obras ainda não começaram e, com a transferência das estruturas para a Câmara da Guarda, caberá à autarquia a sua execução. «A segunda fase do Parque Urbano previa outro lago, entre a VICEG e o pavilhão de S. Miguel, esse também com um carácter lúdico e pedagógico, no local para onde estava previsto o Museu da Água. Haveria ainda um dique, a 100 metros desse segundo lago, para controlo da água, e aí seria feita alguma regularização do leito e do caudal do rio», explica António Saraiva. Mas mesmo sem essas estruturas, o arquitecto acredita que só «uma situação catastrófica» danificará o trabalho feito, «mas sem grandes prejuízos». Entretanto, o rio tem sido limpo a jusante do lago, outra acção considerada «fundamental» por António Saraiva.
Igor de Sousa Costa