A memória dos homens é curta e a dos Governos ainda mais. As queixas que agora se anunciam são sobre os onze anos em que os terrenos envolventes às “supostas” áreas que iriam servir o “suposto” aeroporto da OTA (que por opção deixou de ter esse fim) ficaram desvalorizados. Vão ser estudadas essas situações (…) Isto fez-me vir à lembrança o que se passou em Portugal há 33 anos. Digo Portugal porque para quem vivia em Angola, Moçambique e nas restantes colónias portuguesas também considerava que era no mesmo país que vivia. (…)
À exemplar descolonização sucedeu-se uma louca corrida de massas desordenadas, atropelando-se em todos os sentidos. A instabilidade gerou-se a todos os níveis e ninguém deitou a mão a ninguém. Safaram-se os mais espertos.
Somos simplesmente encurralados num pequeno país, donde tínhamos saído, alguns há mais de cinco décadas e aprendido a viver com outros calores. Mas isso não contou. E, apesar de, passado o primeiro impacto, haver vozes que reagindo, reclamaram o que tinham deixado para trás (uma vida inteira de trabalhos e sacrifícios), a resposta foi o silêncio. Permitiu o Governo português, sem qualquer tipo de acordo com as novas administrações governamentais e por uma independência mal costurada, que fossem confiscados todos os bens desses portugueses sem qualquer retorno. E não falo de “coisas desvalorizadas” mas simplesmente perdidas. Será que alguns conseguiram indemnizações? Se foram, seriam poucos e seleccionados – os do costume! O povo, esse real desconhecido, teve de se resignar e recomeçar na luta pela sobrevivência. É pena que nada mude ao longo do tempo e aquilo a que chamam Solidariedade Social tão proclamada, nunca seja posta em prática. Vamos aguardar mais uma vez como vai funcionar a justiça dos homens neste país de brincadeira. Deixo uma pergunta no ar: Quantas espécies de portugueses há?
Uns são filhos da mãe e outros filhos da… Porquê?
Zelinda Rente, Freches (Trancoso)