Apesar do estudo encomendado pelas Estradas de Portugal (EP), recentemente divulgado, ressalvar que poderão existir «soluções mais equilibradas» para a Serra da Estrela em matéria de acessibilidades que não a abertura de túneis, o presidente da Câmara de Manteigas, José Manuel Biscaia, voltou a defender, na semana passada, que a sua construção é a única solução «possível e que melhor serve» a região.
«Se este país ainda tem o mínimo de honestidade intelectual e de noção do que é coesão territorial e social, não pode existir outra alternativa», sustentou o autarca, à margem da apresentação do programa da Mostra de Actividades. Embora admita que, «do ponto de vista da racionalidade financeira», a construção dos túneis não represente «a melhor solução», o edil acredita que o investimento é, «a todos os outros níveis, mais vantajoso», uma vez que permite atravessar a serra sob condições climatéricas adversas e sem «sinuosidades indevidas». Outro dos argumentos de que se socorre prendem-se com «a redução da sinistralidade, do consumo de combustíveis e das distâncias», garantindo-se igualmente a salvaguarda do ambiente, refere. Por isso, para José Manuel Biscaia, qualquer outra solução que vier a ser considerada originará «um novo IP5», assegurando que «praticamente todo o distrito e a Beira Interior Norte estão de acordo nesta matéria». A excepção vem de Seia, mas «por razões que nem são de natureza técnica», ressalva.
Também o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) emitiu um parecer negativo sobre a abertura dos túneis na Serra da Estrela, por considerar que o empreendimento causaria «maior impacto ambiental que a construção de estradas a céu aberto», nomeadamente no destino a dar os inertes gerados pelas escavações. Uma posição que José Manuel Biscaia recusa aceitar: «Não sabemos onde é que o ICN foi buscar esse parecer, talvez tenha sido feito por “encomenda” – o que seria muito grave –, ou então é simplesmente uma maldade técnica e uma prova de incapacidade científica», acusou. Na sua opinião, «parece que o ICN não estudou nada sobre estas matérias, afinal não se pronunciou sobre a CRIL ou o Marão, que também vão ter túneis». Ironia à parte, o presidente manteiguense continua a defender a criação de portagens caso os túneis avancem, pois será uma maneira de «não depravar o erário público por inteiro».
E justifica: «No Marão, de acordo com o contrato de concessão, o Estado irá pagar, durante 30 anos, 18 milhões de euros por ano, além das portagens, e nós queremos que aconteça exactamente a mesma coisa na Serra da Estrela». Mas se os túneis não forem construídos, José Manuel Biscaia considera que «toda a região ficará a perder, mas Manteigas perderá inquestionavelmente mais e jamais recuperará». E para evitar essa eventualidade, promete lançar «um abaixo-assinado a nível nacional» a favor dos túneis caso as suas reivindicações não obtiverem «resultados imediatos».
Rosa Ramos