O «vício do jogo» e dinheiro perdido em aplicações financeiras de risco foram os argumentos invocados, na passada quarta-feira, por Camilo Coelho para explicar o desvio de cerca de 6,3 milhões de euros de clientes do balcão de Seia do antigo Totta & Açores. Na primeira sessão do seu julgamento, no Tribunal da cidade, o ex-gerente bancário confessou todos os crimes de que é acusado.
«É verdade», respondeu quando confrontado pela juiz presidente do colectivo, Alexandra Guiné. «Tinha aplicações de risco e perdi algum dinheiro, mas era sobretudo um jogador compulsivo no casino», alegou. Camilo Coelho, que está a ser julgado por burla qualificada, falsificação de documentos, abuso de confiança agravada e branqueamento de capitais, confirmou ter usado «algum dinheiro» dos seus clientes no jogo. «Tive sempre a esperança de o recuperar para repor os montantes, só que fui perdendo e, a certa altura, já não consegui controlar a situação», contou. Segundo a acusação, o montante total dos desvios é superior a 6,3 milhões de euros. Dinheiro que o ex-gerente depositou nas suas contas depois de aliciar alguns dos principais clientes da agência a fazer aplicações «altamente lucrativas» nas delegações do banco em Londres e no Luxemburgo. «Prometia taxas de juro anuais entre seis a 22 por cento, mas, em vez disso, apropriou-se do dinheiro, aproveitando-se da confiança que nele depositavam esses clientes», recordou a juíza.
E para disfarçar a burla, Camilo Coelho falsificou documentos comprovativos dessas aplicações e outros para que os clientes não reclamassem os resgates.
A acusação concluiu ainda que o arguido «enriqueceu de forma rápida e fácil, o que conseguiu aliciando os clientes do Banco Totta & Açores». Pressionado pelo delegado do Ministério Público, Camilo Coelho não foi muito convincente a explicar a origem do dinheiro usado na compra de um apartamento na Figueira da Foz e de dois carros topo de gama, um Volvo V40 e um jipe BMW X5. «Se o dinheiro veio do jogo, como diz, então por que não resolveu a situação com os clientes?», interrogou o magistrado. Ao que o arguido respondeu serem já contas «impossíveis de resolver». Questionado sobre se tinha ficado com algum do dinheiro desviado, disse que não. «Não tenho um euro. Sobrevivo com a ajuda de amigos. Sou mais do que pobre», confessou.
Agora no banco dos réus, Camilo Coelho mostrou-se arrependido e pediu desculpa aos clientes burlados – 15 ao todo –, a quem disse considerar como «amigos». O antigo gerente bancário está acusado de 23 crimes e incorre numa pena superior a 25 anos de cadeia, o máximo permitido por lei. Contudo, o seu advogado, Carlos Peixoto, pretende que seja acusado por apenas um crime continuado, pois «a única entidade prejudicada foi o banco». É que a instituição já devolveu aos lesados os montantes desviados. Estão arroladas 39 testemunhas, 29 das quais são de acusação e nove de defesa.
Luis Martins