Aprimorar

Escrito por Diogo Cabrita

Seria bom ouvir falar esmeradamente da Guarda. Seria interessante não ver os nomes dos médicos no telejornal salpicados de injúria, de perfídia. O Augusto fez uma prótese, desenhou uma técnica, registou uma patente, goste-se dela ou dele é bom para a Guarda. O Augusto é vaidoso? É! E então? O Augusto é educado? É! Com menos ódio, ciúme e rancor, egocentrismo podiam todos ter feito algo maior. Mas aqui é sempre melhor o Não! Todo o trabalho que entreguei sobre úlceras da perna no Hospital Sousa Martins, entre 1998 e 2000, entre fotos, diapositivos, textos e critérios consta que foram sumiços. Eram centenas de histórias de pessoas da Guarda e a maioria tratadas por mim, a Lurdes Mocho, a Lalita Gomes, a Ana Paula Barata e o Eliseu Silva. Fecharam a consulta e deram-me em cinzas ao vento.
Seria delicioso que da Guarda viessem sucessos, com ideias fortes, com mensagens frescas, mais que frias. Seria uma cidade que construía a sua zona industrial, atrairia técnicos de saúde. A cidade tem um problema maior. Na Guarda é mais jocoso quem denigre os outros, tem mais futuro quem destrói do que quem projeta, tem mais importância quem insulta do que quem fabrica. É um torresmo demasiado queimado, uma maçã demasiado cozida. Foi como me receberam quando fui para o Hospital – três pedras na mão e muito fel na língua de muitos que não conhecia, que nunca tinha visto ou falado. A pústula funcionava. Por tudo isto ouvimos falar muitas vezes mal e poucas bem da Guarda. É mais fácil encontrar os da Guarda em Coimbra que na cidade de origem. Compram longe, tratam-se longe, hiperbolizam as experiências negativas, colocam bandeira a sinalizar os erros dos outros e não poupam os amigos e às vezes os irmãos. Se Saramago fosse da Guarda tinha rua pequena. João Gomes está esquecido, o engenheiro Carvalho também. Muitos singram após sucesso fora e então a cidade os aplaude, mas mesmo isso só na vetusta idade. Tipo de mérito, empreendedor, com estrutura e elogiado jovem é soluço, espirro ou arrepio. A Guarda foi a cidade dos professores primários, a cidade que ensinava a ler Portugal. A viçosa cidade tornou-se uma espécie de angolana retornada. Há mais calor que antes, tinha hotel, tinha comércio, tinha gente, tinha fábricas, mas ficou tudo em Luanda. Esta tristeza tomou conta dos pensamentos. Quantas pessoas da Guarda provaram o pastel D. Sancho que ganhou um concurso? Faz-se na Guarda! Quantas se divertem e treinam nas piscinas municipais? Das melhores de Portugal. Quantas caminham pelos parques e jardins da cidade? Dos mais engraçados de Portugal. Quantas preferem os produtos da Guarda?
Para aprimorar isto, precisamos que não tarde o amigo da Guarda, que não se esconda quem realize algo de novo, quem enobreça o politécnico, quem desenhe estratégia nas associações, quem forme um grupo intermunicipal que alavanque a Guarda, quem dê força ao parque industrial. Está mais viva Vilar Formoso que a Guarda. Temos de perceber que para melhorar Manteigas, Trancoso, Celorico, Pinhel, Meda, etc., carece de se construir uma capital maior.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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