Deu-me vontade de escrever sobre a luz, sobre essa claridade que nasce de um botão, sobre os postes que passeiam sobre nossas casa transportando a luz. A verdade é que foram tempos de trevas os que morreram com a iluminação. Hoje seria um paradigma novo e dificilmente aceitável retornar aos tempos do “Senhor Dos Anéis”, ao mundo da escuridão do Rei Artur. Todos adoramos carregar num botão e fazer-se luz, todos gostamos de carregar num botão e silenciar a TV, todos vivemos com a facilidade desta solução simples de fechar o virtual e regressar à realidade. A luz nasceu como um bem que controlamos e transportamos faz pouco mais de 100 anos. Com ela e por ela temos os computadores, os telefones, a televisão, a rádio e tantas outras coisas que, directa ou indirectamente, nos fascinam por relação com ela. A luz controlada por reóstato, a luz domesticada em baterias, a luz levada por fios, a luz manipulada em néons, a luz a dar atenção, a luz a criar prioridades, a luz a gerir o trânsito, a luz veículo de conhecimento, a luz arte e arquitectura. A luz é a nossa vida contemporânea, é o nosso bem-estar. E por isso a luz devia ser liberal, devia ser possível criar luz em casa, exportar luz para os vizinhos, ser criativo na sua construção, e a luz não devia ser da REN ou da EDP, devia ser livre e múltipla. A luz também não devia ser utilizada como arma e matar gente por respeito à sua fantástica criação. O homem domesticou uma corrente invisível, um raio que sai do céu e só por isso os homens deviam ser melhores e mais solidários. Levar a luz a todos e dedicar a todos o poder inumano de carregar num botão para fugir de coisas tão infames como os discursos intolerantes, as religiões castradoras e tudo aquilo que nos retira a luz interior. Se no Afeganistão houvesse mais luz havia menos mortes e menos fratricídio.
Por: Diogo Cabrita