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Piratas da Educação

Sentado à mesa do restaurante, comemorando os meus trinta e oito anos, com a família, deito o olho às notícias. Entrevistam, com as estúpidas questões de sempre, um tenente da brigada de trânsito da GNR acerca de uma operação STOP. Observo aquele indivíduo que, com pouco mais de vinte e cinco anos, é comandante de uma brigada territorial, com todas as mordomias e posição social, que aquela função na sociedade lhe confere. Por outro lado assalta-me a imagem social e política que uma profissão como a minha, professor, tem actualmente na opinião pública, fruto de uma “conspiração” bem sucedida e que culminou no, aberrante, Estatuto da Carreira Docente. Antes do 25 de Abril de 1974 a profissão de professor era respeitada, tinha um elevado estatuto social. Após essa data começou, de imediato, o descalabro, com as passagens administrativas em massa e depois, sempre a descer, ao longo de todos estes anos, culminando no status quo actual. Batemos no fundo! Numa tempestade de pensamentos ocorrem-me duas palavras para expressar o meu estado de espírito: Malditos sejam! Malditos sejam, porque nos dividiram, desmoralizaram e desacreditaram, para quê? Pensam que, desta forma, vão ter melhores alunos? Para que serve esta palhaçada do prémio nacional do professor? Poderemos ver os cartões de militantes dos galardoados? Será que não foram o resultado de mais um casting? Para quê esta feira de vaidades? Porquê este armar ao pingarelho?

Tenho 38 anos e estou no “topo da carreira”, sou “só” professor. O acesso à categoria de professor-titular, depende, em última análise, (mesmo que todos os outros, infindáveis e rocambolescos, itens necessários estejam preenchidos) de uma vaga no seu estabelecimento de ensino. Tendo em conta que a idade de reforma rapidamente se aproximará dos setenta anos, é fácil vaticinar que, a grande maioria dos professores, irá estagnar nas suas carreiras, não por incompetência ou desleixo, mas simplesmente porque não podem aceder por inexistência de vaga na sua escola. Mas a pergunta que se impõe é: Estará o ensino melhor? Terão conseguido, os “piratas da educação”, Lurdes Rodrigues, José Sócrates e Teixeira dos Santos, (a senhora leva folgada vantagem, vote em www.sprc.pt/asps/votapirata.htm), melhorar MESMO o ensino? A resposta parece-me óbvia. Só o pioraram. No país do faz-de-conta em que nos tornámos, o que interessa são os resultados, os meios para os atingir, nem por isso. A matemática tinha maus resultados nos exames nacionais? Terão sido dadas instruções e, milagrosamente, os alunos ficaram mais inteligentes e este ano foi uma fartura de “vintes”. O mais ridículo é que foi vendida a ideia aos media, logo, a algum povo, de que os bons resultados eram fruto do Plano Nacional da Matemática. Acontece que, por acaso, o plano estava a ser aplicado, apenas, no ensino básico e deste plano os actuais alunos do 12º ano não beneficiaram! Apesar disto a (des)informação colheu na opinião pública, a começar pelos jornalistas, que não terão questionado a ministra relativamente a esta incongruência.

A paixão de Guterres pela educação, deu lugar a um doentio sentimento de amor-ódio por parte desta senhora e deste governo para com a Educação. Amor platónico pelos resultados, e ódio pelos executores das medidas educativas – os professores. Parece-me um contra-senso. Diz o povo que não é com vinagre que se apanham moscas mas, uma vez mais, criaturas de gabinete e outros tecnocratas alinharam-se para dar mais uma punhalada nas costas dos professores, “matando-os” mais um bocadinho, destruindo-lhes a vontade de ensinar. O que mais enoja em todo este processo destrutivo de uma profissão, é que tem como principal objectivo a poupança. Dizem os entendidos que se preparam para fazer também connosco, os famigerados Contratos Individuais de Trabalho. Até lá.

Por: José Carlos Lopes

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