O Governo incluiu Girabolhos, no concelho de Seia, no Plano Nacional de Barragens e excluiu das suas prioridades os projectos de Pêro Martins e Senhora de Monforte, ambos no rio Côa e no município de Figueira de Castelo Rodrigo. Estes empreendimentos voltam para a “gaveta” onde têm estado há duas décadas. O programa está agora em discussão pública até Novembro, altura em que será consolidado.
Segundo o ministro do Ambiente, Nunes Correia, a questão ambiental foi «decisiva para a escolha» das 10 novas barragens de entre os 25 locais de implantação que estavam em cima da mesa. «O nosso guia de acção resume-se em três palavras: minimização e mitigação [dos impactos] e compensação [dos recursos naturais destruídos]», acrescentou. Divulgados na passada quinta-feira, estes aproveitamentos com elevado potencial hidroeléctrico vão situar-se em Padroselos, Vidago, Daivões, Gouvães, Fridão, Foz-Tua, Pinhosão, Girabolhos, Alvito e Almourol. Com estes projectos, o Governo quer cumprir o objectivo de aumentar a produção de electricidade em Portugal até sete mil Megawatts em 2020 e elevar o aproveitamento hidrológico para 70 por cento da capacidade do país. Satisfeito com a inclusão de Girabolhos, no rio Mondego – que já fazia parte dos planos de expansão do sistema electroprodutor nacional da REN (Redes Energéticas Nacionais) –, o presidente da Câmara de Seia considera que o empreendimento vai representar uma «mais-valia para o futuro do concelho e é a concretização de um desejo antigo das populações».
«Erro histórico» no Côa
Eduardo Brito espera agora que o investimento se concretize a curto prazo, «porque o Mondego tem, naquela zona, enormes potencialidades para a produção de energia, o turismo ou mesmo a agricultura. O projecto terá muitos efeitos directos e indirectos na economia local». De acordo com o sumário do Plano Nacional, o investimento de Girabolhos, freguesia com cerca de 800 habitantes situada a 15 quilómetros de Seia, rondará os 102 milhões de euros e terá uma capacidade instalada de produção de 72 Megawatts. Preterida foi, mais uma vez, a barragem idealizada para a zona de Quintã de Pêro Martins. O projecto começou por ser uma forte alternativa ao aproveitamento de Foz Côa, abandonado por causa das gravuras rupestres, mas também foi ultrapassado pelo empreendimento do Baixo Sabor. Desalentado com estes sucessivos adiamentos, António Edmundo, autarca de Figueira de Castelo Rodrigo, continua a acalentar a esperança de que esta barragem tenha «viabilidade e construção assegurada num futuro próximo».
De resto, isso será a reparação de um «erro histórico» no Côa, referindo-se a interrupção do aproveitamento na Canada do Inferno. «Em 1996 não houve discernimento, nem racionalidade, para se olhar para a questão cultural das gravuras e para a questão económica da barragem e, porventura, logo nessa data, poder-se-ia ter equacionado a construção da barragem de Quintã [de Pêro Martins], preservando as gravuras», lamenta. E os argumentos a favor não faltam a António Edmundo. «Este projecto era importante para termos uma reserva estratégica de água a Norte do distrito da Guarda, que é uma zona muito seca. Por outro lado, o Côa é um rio inteiramente português, o que permitirá ainda regularizar os caudais – quer de cheias ou de esteais», enumera. Além de que, a concretizar-se, o empreendimento será «o maior investimento público, ou privado, alguma vez concretizado nesta região».
Luis Martins