Os acontecimentos ocorridos durante a última semana, no Algarve, com a destruição de um campo de milho transgénico por parte de um grupo de activistas ambientais lançou uma discussão em duas frentes. Uma relacionada com o legitimidade da acção, uma vez que se tratou da destruição de propriedade privada como veículo para transmitir uma mensagem, sendo mesmo vista como o primeiro acto de desobediência civil ecológica em Portugal.
Outra frente acabou por relançar o debate sobre a interferência do homem no equilíbrio ambiental, sobre qual o papel que ser humano na alteração do equilíbrio existente na Natureza.
A postura extremista desta campanha, dificilmente aceite aos olhos da opinião pública, pode ser contra-producente inviabilizando a transmissão da mensagem que está na génese de toda esta campanha e que procurava alertar para a utilização de milho transgénico, bem como para os perigos que este tipo de alimentos podem representar para a saúde do ser humano.
Muito menos mediática que a acção do Verde Eufémia por terras algarvias, mas de elevada importância, para provar a tese da influência do ser humano no equilíbrio ambiental, foi a publicação, na revista Nature, de um artigo no qual se defende a relação entre a actividade humana e a precipitação ocorrida ao longo do século XX. Segundo cientistas norte-americanos e canadienses, autores deste estudo, é a primeira vez que se consegue provar alterações no padrão de precipitação como resultado da influência humana.
Em meteorologia, a precipitação descreve qualquer fenómeno que implique a queda de água, no estado sólido ou líquido, como resultado da condensação do vapor de água existente na atmosfera. Este novo estudo acrescenta uma nova variável ao conjunto de factores que influenciam a variação da precipitação à superfície do globo terrestre e que resulta acção conjunta dos seguintes factores: latitude (pressão atmosférica); relevo; afastamento ou proximidade do mar e correntes marítimas.
Neste estudo foi feita uma comparação entre os níveis de precipitação ao longo do século XX com simulações de modelos climáticos, apontando os resultados para que, como defendem os autores do artigo, a acção humana teve uma influência detectável nas alterações observadas na precipitação média e estas mudanças não podem ser explicadas pelas variações climáticas internas ou pela acção da natureza.
A influência da acção humana verifica -se de forma significativa no aumento de precipitação observado nas latitudes médias do Hemisfério Norte, também designadas por Zona Temperada; para uma situação de seca nos trópicos e sub-trópicos do mesmo hemisfério; e provocaram o aumento da humidade nos sub-trópicos e trópicos profundos do Hemisfério Sul.
Este estudo vem na sequência de outros que provam a influência do homem no clima, como por exemplo, na temperatura do ar à superfície, na pressão do nível do mar, na temperatura da atmosfera livre, na altura da tropopausa, camada da atmosfera terrestre situada entre a troposfera e a estratosfera e no índice de aquecimento do oceano.
Seria como base nestes estudos e posterior amplificação para a opinião dos resultados que se deveriam fazer a discussão sobre quais os caminhos ambientais a seguir pelo ser humano, e não partindo de acções de desobediência civil.
Por: António Costa