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Despedimentos novamente adiados na Delphi

Cablagens para o novo Fiat Punto vai ocupar os 524 trabalhadores em lista de espera para sair e obrigar à contratação temporária de mais 177

«Apesar de todas as dificuldades, ainda cá estamos e faremos tudo para continuar na cidade», assegurou Manuel Morais, um dia depois de comunicar aos sindicatos que os despedimentos previstos na Delphi da Guarda foram adiados para Maio de 2008. Em declarações a “O Interior”, o director da fábrica de cablagens da Estação garantiu que a situação está «controlada até meados do próximo ano e não há necessidade de reduzir a actividade, pelo contrário talvez tenhamos que a aumentar um pouco».

Mas avisou: «Se até lá não conseguirmos mais encomendas além das que temos actualmente, seremos obrigados a fazer a redução de pessoal nessa altura», dizendo estar «naturalmente satisfeito» com esta mudança de cenário. Para Manuel Morais, «é cada vez mais difícil manter a continuidade da fábrica com os seus actuais níveis de actividade, pois trabalhamos num sector muito concorrencial e que não é fácil manter em Portugal». Até lá, a unidade guardense da multinacional norte-americana, que emprega pouco mais de mil trabalhadores, vai assumir o fabrico de um produto que estava a ser produzido numa das fábricas na Roménia para o novo Fiat Punto. «Como deixou de ter capacidade para dar resposta ao incremento dessa encomenda, aproveitou-se a disponibilidade e “know-how” da Delphi da Guarda para assumir essas produções», refere o responsável. Daí resultou a mudança de planos comunicada na semana passada pela administração. Os sindicatos foram os primeiros a saber que a dispensa de 524 trabalhadores do quadro, prevista até ao final do ano, estava suspensa até Maio de 2008.

Tudo por causa do contrato de produção de cablagens para a Fiat, deslocalizado da Roménia, que «vai ocupar aqueles operários nesse período e implicar a contratação de mais 177 trabalhadores temporários», adiantou José Luís Besteiros, do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), que participou na reunião. Contudo, neste encontro, os responsáveis pela fábrica guardense reiteraram que o despedimento colectivo mantém-se. «Trata-se de uma moratória, pois há apenas mais um adiamento temporal, embora a administração tenha garantido que vai continuar a tentar arranjar soluções para evitar a medida», acrescentou. O dirigente considera que este «novo volte-face» é positivo para a empresa e para os trabalhadores, mas que a decisão apenas «adia o problema, não o resolve». E, mais uma vez, vai concretizar-se faseadamente. Em Maio sairão cerca de 100 funcionários, estando prevista para Julho a maior leva, com 400 dispensas, enquanto os restantes serão despedidos em Agosto.

Actualmente, a unidade da Guarda-Gare já está a trabalhar no corte de fio para as cablagens do novo Fiat Punto. O material necessário ao arranque daquela linha de produção era aguardado esta semana, perspectivando-se o seu início para os primeiros dias de Agosto. Por essa altura estarão também de regresso grande parte dos 230 trabalhadores enviados para a Roménia por causa desta encomenda. A Delphi anunciou, em Maio, a dispensa de mais de metade dos seus trabalhadores na Guarda devido à «forte redução da actividade produtiva» naquela unidade. Inicialmente, a medida deveria avançar em Junho, Setembro e Dezembro. Mas a primeira fase de despedimentos, que abrangia 226 operários, foi suspensa por causa da transferência da Roménia da encomenda da Fiat. As restantes estavam programadas para Setembro (173 pessoas) e Dezembro (351). «Tínhamos anunciado que poderia haver uma redução importante da actividade da fábrica até Dezembro, mas a informação que passámos aos trabalhadores [na semana passada] é que tal não se vai verificar e que, felizmente, conseguimos inverter essa situação, pelo menos de momento», sublinhou Manuel Morais.

Luis Martins

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