Já não é a primeira vez que damos voz às palavras. Hoje vemo-nos obrigados a dar-lhes vitaminas e alento necessários para que elas possam descrever tudo aquilo que a sabedoria popular nos ensina: “pobre de quem as ouve. Quem as diz fica aliviado”.
Vinicius, no seu «operário em construção», põe o dedo na ferida. Anos mais tarde, Pimenta dá grandeza à coisa com uma simples referência a todos os filhos da puta e, já o duende da mercearia, qual poeta frustrado, deixa de ver os pardais no céu, embalado pelo som da telefonia onde Adriana canta «porque é que tem de ser assim».
Ora bem… deixando de lado todas as teorias do tio Sam e o (pseudo)investimento de todas as largadas estapafúrdias, afinal, há mesmo cucos na América e por cá, no velho continente, iniciou-se a exportação de papagaios para a China, única forma de dar a volta à questão, não vá o raio do diabo tecê-las.
E, se coxos já andamos, temos de olhar com muita atenção para o filme que nos apresentam “Trip de família”, onde Aniston, mais o tio Patinhas, a Cruella de Vil, os irmãos Metralha e o Pinóquio, que entretanto deixou de acreditar no Gepeto, passam a querer “sol na eira e a chuva no nabal”.
O protagonista desta historieta, Dev Patel, utilizando toda a desfaçatez em autênticos cálculos saloios como sejam o descalçar da bota, assobiar para o lado, tapar o sol com a peneira, qual Sancho Pança de bucho arredondado, líder incontestado do bando fungágá da bicharada, faz questão de relembrar a máxima (quase esquecida) de Casimiro de Almeida, protagonizada por um dos vários elementos do escarro que a democracia deixou parir “Olha a mala, olha a mala. Olha a malinha de mão. Não é tua nem é minha”… é o Arruda a gamar no avião.
Um pouco mais ao lado e não querendo fazer publicidade à imobiliária ERA, o outro recitava «Era não era, andava na serra. Meteu-se ao caminho, à procura do gibão que não tinha».
No regresso às palavras, as tais que agora te direi, a Lena acrescenta «quem é que nunca foi aliciado, por um desconhecido, a fazer um negócio da China/para depois acabar enrolado a rogar pragas ao gatuno que deu à sola com a massa/quem é que nunca foi adormecido com a canção do bandido que tenta trocar com talento a malta da banda de S. Bento»… para terminar «Prometem muito pão e vinho/quando abre a caça eleitoral/Desde que se vêem no poleiro/São atacados de amnésia total… Demagogia feita à maneira/É como queijo numa ratoeira».
Ainda continuando com a análise da coisa, damos conta da ministriagem a ocupar todos os canais televisivos no passado sábado à noite, acompanhados por um batalhão de comentadores direitolas, a defender os pecados inconfessáveis do protagonista de “quem quer ser milionário”, verificando-se ainda o comportamento do maior aliado do laranjal português: O Partido Comunista.
Ao apresentar uma moção de censura, votada desde já ao fracasso, onde está apenas subjacente a sua própria sobrevivência, apostam desta forma na manutenção de um primeiro-ministro, completamente descredibilizado, e de um Governo que pouco ou nada vale. Aliás, o caso não é único. Auto-excluindo-se da coligação em Lisboa, o PC vai entregar de mão beijada a presidência ao pior presidente da Câmara que os lisboetas alguma vez tiveram.
É por estas e por outras que este ganhar de tempo dá muito jeito ao laranjal egitaniense, que assim continua a preparar o tal parto considerado difícil e de risco.
Sinceramente, depois de assistirmos a tantos casos, casinhos, casinhotos e afins dá mesmo vontade de fazer-lhes aquele nobre gesto que Rafael Bordalo Pinheiro imortalizou no barro…