Estava agora mesmo a ouvir mais um “Prós e Contras” com preponderância médica, hoje sobre a obesidade e lembrei a quantidade de coisas que aprendi, que eram verdades e já não são. Lembrei, porque também me parece que tudo o que hoje discutimos sobre obesidade em breve estará num paradigma novo. Penso que o que hoje ouvi, amanhã será mentira. Acredito que, inclusive, a banda gástrica é já um erro sabendo, como já se explicou aqui, que a grelina não é modificada nesta cirurgia e ela é já matéria da eficácia para o tratamento final. Quando estudei, o Prof. Gouveia Monteiro exibia a tese dos fumeiros como causa do cancro gástrico na Guarda, mas uns anos depois, uma dezena de empenhados e desconhecidos clínicos gerais da Guarda fez um trabalho a que ninguém deu ouvidos onde se identificavam as famílias onde havia prevalência do carcinoma. Não era o fumeiro, era a genética, essa atrevida desconhecida, que marcava as pessoas. Hoje a importância do fumeiro é cada dia mais posta em causa. E também ensinavam como o leite protegia o estômago das úlceras e hoje sabemos que o cálcio que ele transporta é um gatilho da acidez. Entretanto, descobriu-se o malandro do H pylori que o Prof. Monteiro nunca chegou a conhecer e encontrou-se outra moda explicativa da doença, cada vez mais próxima de uma nova verdade. E na pancreatite defendia-se o repouso do organismo e hoje sabe-se da importância dos alimentos a impedir a translocação bacteriana e a desnutrição dos enterócitos, ou seja: na pancreatite aguda, sem ileus paralítico – come-se. E hoje podemos prever que a genética estimulada por um gatilho qualquer dos Es que pomos nos alimentos são, em conjunto, os responsáveis porque muitos engordam. E deve haver quem seja mais susceptível a esses adicionados malévolos dos alimentos que nos condicionam o vício e a insaciedade. Há uma base pré-determinada e depois um “trigger” que a liberta e assim se espalham as acumulações de gordura, que também elas são de vários modos. Um gordo pode ser só gordo em torno do pescoço – o Madelung condicionado pelo álcool, ou só nas pernas em algumas lipodistrofias, ou só para lá das fascias (típico dos homens pançudos) ou para fora delas (como nas mulheres arredondadas de Balzac). E tudo isto é idiopático (de causa desconhecida) e necessita muito estudo e dinheiro de investigação.
Por: Diogo Cabrita