Em busca das regras inatas da linguagem

Escrito por António Costa

” (…) o cérebro começa por identificar as palavras individuais e, depois, se entre estas palavras for possível isolar alguma que indique um sujeito e outra que indique uma ação, determina as relações entre os diversos elementos e assim sucessivamente, para toda a frase. “

De acordo com um estudo dirigido por investigadores da Universidade de Nova Iorque e do Instituto Max Planck de Estética Empírica de Frankfurt, publicado na revista “Nature Neurosciene”, é possível, em função da estrutura da linguagem, conhecer os circuitos neuronais específicos que definem uma «gramática interna» universal.

A ideia retoma a teoria proposta em 1957 por Noam Chomsky, segundo a qual reconhecemos uma frase gramaticalmente correta, mas sem sentido, porque temos uma «gramática interna inata» que nos permite captá-lo. Por outras palavras, esta gramática inata permite-nos distinguir as sequências de palavras sem sentido das que poderiam ter um significado.

Muitos psicólogos e neurocientistas opõem-se a esta ideia e afirmam que a nossa compreensão não deriva de uma gramática interna, mas nasce das elaborações estatísticas executadas pelo cérebro. Baseando-se na experiência acumulada, o cérebro constrói um reservatório de palavras e frases que reconhecemos como sendo dotadas de sentido.

Para resolver esta questão, um grupo de investigadores dirigido por David Poeppel realizou uma série de experiências, usando técnicas sofisticadas para medir a atividade do cérebro. Durante estas experiências, um grupo de pessoas – metade de língua materna inglesa, metade chinesa – ouviram palavras, sequências aleatórias de palavras e frases completas, algumas com significado e outras não, enquanto se observava a sua atividade cerebral. A participação de pessoas que falavam diferentes idiomas foi útil tanto para a identificação das estruturas profundas da linguagem (a estrutura sintática das frases em chinês e em inglês é muito diferente), como para controlar a universalidade gramática interna.

Da análise dos resultados, chegou-se à conclusão que a nossa mente se fixa em palavras, sequências de palavras e frases para estabelecer a sua correção em função de uma ordem hierárquica precisa. Por exemplo, o cérebro começa por identificar as palavras individuais e, depois, se entre estas palavras for possível isolar alguma que indique um sujeito e outra que indique uma ação, determina as relações entre os diversos elementos e assim sucessivamente, para toda a frase. Parece, pois, que as expressões são analisadas como possíveis portadoras de significado, ou seja, como frases formuladas corretamente, antes de se lhes atribuir um significado específico. Dito de outro modo, verificamos que as sequências de palavras cumprem uma espécie de gramática interna: uma sucessão incorreta de palavras como «de cores cozinham potentes incansavelmente pensamentos» é descartada por não fazer sentido, mesmo antes de tentar atribuir-lhe significado, enquanto «potentes pensamentos de cores cozinham incansavelmente» obriga-nos a procurar um significado, mesmo que não o encontremos.

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António Costa

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