A indignação saiu à rua, na última sexta-feira, e veio de Pinhel. Mais de quatro centenas de populares manifestaram-se na Guarda contra o que apelidam de «encerramento do interior» por parte do actual Governo. Cartazes e palavras de ordem deixaram bem claro o desagrado de um município perante o possível encerramento do Serviço de Atendimento Permanente (SAP), do tribunal local e do posto da GNR de Freixedas, além do fecho, já concretizado, da Zona Agrária.
«Pinhel está em luta por uma causa justa», gritaram os manifestantes pelas ruas principais da capital do distrito até ao Governo Civil, onde representantes do PS, PSD, CDU e o presidente da Câmara entregaram um manifesto a Maria do Carmo Borges. O protesto, que decorreu sem incidentes, foi deliberado, por unanimidade, na última Assembleia Municipal da “cidade-falcão” para repudiar as «políticas de encerramento de serviços públicos essenciais, que em nada beneficiam as nossas gentes. Pelo contrário, só levarão ao total abandono e emigração, um fenómeno que, passados 40 anos, volta a verificar-se de forma acentuada», lê-se no documento. Já António Ruas disse que os pinhelenses «não aceitam ser tratados como cidadãos de segunda pelo facto de estarem no interior». O presidente da Câmara acrescentou para quem tivesse dúvidas que esta foi uma manifestação «contra aquilo que nos dói e estas medidas, se se concretizarem, vamos senti-las duramente», lamentou, sublinhando que «o interior já começa a ficar farto que os sucessivos Governos façam tábua-rasa das necessidades de melhoria das condições de vida das suas populações».
Nesse sentido, o autarca prometeu acções «mais duras» se estas reivindicações não forem atendidas, esclarecendo que os pinhelenses «nunca irão para a violência nem para cortes de estradas». O protesto começou ao princípio da tarde em Pinhel, com uma concentração e a colocação de uma enorme faixa negra numa das torres do castelo. Para Alfredo Torres, os guardenses também deviam ter participado na manifestação, porque «não é só Pinhel que está a perder, mas todo o interior». Este professor na secundária da “cidade-falcão” considera que o fim destes serviços públicos é «muito grave» e comparável ao fecho da Rohde. «Só neste ano lectivo perdemos 70 alunos na minha escola», afirmou. Muito descontente estava Maria Martins. Esta agricultora garante que vai sentir «muita falta» do SAP e da zona agrária, porque não tem meio de transporte para vir à Guarda ou a Figueira de Castelo Rodrigo [onde ficará uma delegação do Ministério da Agricultura]. «O que o Governo quer é matar os velhos e os agricultores, que estão cada vez mais espezinhados e desenganados. Eles, em Lisboa, que olhem cá para nós, porque o interior também é Portugal», arengou.
Formada por três dezenas de tractores, dois autocarros, uma centena de automóveis e uma dezena de motos, a caravana rumou depois em marcha lenta até à Guarda, pela A25 e a EN221. Muito notada foi também a presença dos autarcas de Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo e Trancoso, outros municípios que podem vir a ser afectados pela reorganização das Urgências, dos tribunais e da GNR. Entretanto, está agendada para esta noite, em Gouveia, uma vigília contra o encerramento do SAP no centro de saúde local, uma medida já contestada num abaixo-assinado com mais de quatro mil assinaturas.
Onze SAP do distrito na lista
O distrito da Guarda pode perder onze Serviços de Atendimento Permanente (SAP) dos centros de saúde, no âmbito da polémica reestruturação dos serviços de Urgências. Na lista para fechar no período nocturno estão os SAP de Aguiar da Beira, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Gouveia, Manteigas, Mêda, Pinhel, Sabugal e Trancoso. Estas localidades constam de uma lista do Ministério da Saúde divulgada pela TVI, segundo a qual a região Centro será a mais afectada. É que dos 56 serviços a fechar, 36 estão localizados nesta área. De acordo com a lista, elaborada pelo ministério em Agosto do ano passado, a região Norte perde 10, em Lisboa e Vale do Tejo encerram seis e quatro fecham portas no Alentejo e Algarve.
Luis Martins