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Imprensa Regional

Acaba o jornal “Público” de divulgar que o governo regional da Madeira, liderado por Alberto João Jardim, concedeu em 2005 subsídios no valor de cerca de cinco milhões de euros ao Jornal da Madeira. A tiragem deste não ultrapassa os cinco mil exemplares por edição e os subsídios recebidos são imensamente superiores às receitas alcançadas com a venda em banca.

Interrogado sobre o assunto, Alberto João (como é carinhosamente designado no jornal) defende os subsídios. Segundo ele, o governo regional combate, através daqueles subsídios, o pensamento único e o regime vigente “em Lisboa”. É portanto uma voz da resistência a necessitar de apoio e os cinco milhões de euros constituem apenas o pagamento de uma espécie de imposto revolucionário.

Importa aqui recordar que a notícia do jornal “Público” parte de um relatório do Tribunal de Contas e não de uma qualquer denúncia anónima. Importa recordar também que a maior parte da imprensa regional do pais vive em graves dificuldades, agora que terminou o “porte pago” e que as receitas de publicidade são directamente proporcionais ao desempenho económico do país. O que não fariam por exemplo o Jornal do Fundão, O Notícias da Covilhã, O Interior, se dispusessem de cinco milhões de euros por ano de almofada financeira? Creio que fariam bem melhor que o Jornal da Madeira.

Este, como estrela maior, apresenta o seu patrocinador: Alberto João Jardim assina aí uma coluna de opinião, assinada várias vezes por semana. Dei-me ao trabalho de ler três textos dos últimos sete dias. Dois deles sobre o próximo referendo, outro sobre a inveja. Este último parecia escrito em código. Referia-se cripticamente a um comunista “anorérxico” (sic), depois apenas anoréxico, que teria inveja. O erro de ortografia tem desculpa num pequeno jornal regional sem grandes meios, e menos num periódico subsidiado em mais de um milhão de contos por ano. É caso para perguntar em que gastam o dinheiro se não têm sequer um copydesk em condições para verificar os textos da estrela da companhia.

Suponho que os artigos de opinião do presidente do governo regional sejam o sustentáculo do jornal, aquilo que leva cerca de cinco mil pessoas a comprá-lo nos quiosques (quase tantas como as que lêem regularmente “O Interior”). Tenho de vos dizer que, se é verdade que Alberto João escreve mal, é verdade também que escreve esforçada e prolixamente. Escreve com contundência e utiliza palavras fortes. Não se contenta em dizer, por exemplo, que os adeptos do “sim” no referendo sobre o aborto utilizam argumentos discutíveis, ou até enganosos. Prefere dizer que “Os abortivos vêm assumindo um paleio de engano junto da Opinião Pública” (http://www.jornaldamadeira.pt/not2005.php?Seccao=12&id=59036&sup=0&sdata=). Repare-se como o simples uso das palavras “abortivos” e “paleio” conferiu potência ao texto. Noutro texto, publicado uns dias depois, diz que “Abortos, já são os resultados do Estado que temos. Ao currículo, junta-se o estatuto de abortadeiro.” Recordemos agora que, segundo ele, o Jornal da Madeira é um jornal da resistência ao regime vigente, resistência que justifica cinco milhões de euros de subsídio por ano – conferidos pelo estado. Reparemos novamente no vocabulário e nas imagens: o Estado como abortadeiro, os seus resultados como abortos. Mais adiante, nesse mesmo texto, sucedem-se em rajada expressões “de combate”: “rasteiro”, “Zé Pagode”, “folclorismo partidário”, “aldrabices”, etc.

Há uma coisa que não entendo. É que o Jornal da Madeira está praticamente falido, apesar de dispor de um comentarista de alto coturno e de contributos financeiros dignos do mais decadente e luxuoso lupanar de todas as ásias (peço desculpa por esta lamentável metáfora, quis apenas humildemente imitar o inimitável Aberto João).

SUGESTÕES

Um voto: sim, apesar de todas as dúvidas e com a convicção de que a despenalização, aliada a um maior controlo e acompanhamento, irá acabar por reduzir na prática o número de abortos.

Um sonho: a independência da Madeira.

Uma sugestão ao director do “Interior”: Luís, pede rapidamente um subsídio ao Alberto João!

Por: António Ferreira

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