1. Depois de um mês de contradições e paradoxos, o Governo de Luís Montenegro parece estar a acertar no rumo que quer dar à governação. Como escreveu David Pontes, no “Público”, aparentemente Luís Montenegro está disponível para sair do “estado de desgraça” que marcou as primeiras semanas do Governo. E esta é uma excelente notícia para o país. Goste-se ou não do primeiro-ministro, é essencial para todos que o Governo tenha um rumo e que se percebam as medidas que toma e implementa. Depois, cá estaremos para analisar e concordar ou discordar, para debater politicamente e para apoiar ou criticar.
Neste contexto, relevam-se as alterações introduzidas para o Complemento Solidário para Idosos, com o aumento em 50 euros, e a comparticipação integral dos medicamentos dos pensionistas beneficiários do CSI (até agora a comparticipação era de 50 por cento) a vigorar já a partir de junho. Mas também a apresentação de novas medidas para a habitação, com uma nova estratégia, por exemplo, acelerando os projetos de 26 mil casas que as autarquias candidataram ao PRR e que, entretanto, ficaram parados à espera de aprovação no IHRU. Agora, para permitir mais celeridade na construção dos projetos candidatados, será possível com a assinatura de um termo de responsabilidade com as autarquias. E decidiu, depois de 50 anos de discussão, avançar com o novo aeroporto para Alcochete…
Mais do que medidas determinantes para a resolução de problemas graves do país, estas estratégias podem ser o caminho que podem dar um novo rumo e um élan que poderá elevar a ambição e longevidade do governo de Luís Montenegro. Afinal, se calhar, ainda era cedo para marcar o funeral do governo da AD.
2. As eleições na Catalunha, que os socialistas venceram, inverteu a tendência de crescimento dos nacionalistas e dá alguma vantagem aos moderados. Pela primeira vez, em 45 anos de eleições democráticas, o partido mais votado tem um caráter nacional, “espanhol”. Não foi com maioria, mas é um sinal de que os catalães querem paz e tranquilidade. Num tempo em que os extremos, por toda a Europa, têm ganho espaço, protagonismo e votos, os catalães escolhem os moderados.
Quando, em 2017, em pleno “procés”, Carles Puigdmont, então presidente da Generalidat (comunidade autónoma da Catalunha), lançou o referendo à independência, a separação de Espanha parecia imparável. Com o resultado das eleições regionais de domingo o independentismo teve uma enorme derrota. Obviamente que os movimentos independentistas irão continuar a sua luta pela autodeterminação. Mas, pela primeira vez, em eleições, o partido mais votado não é independentista. Afinal, a amnistia foi valorizada, a concórdia foi assimilada e o pagamento da divida catalã mereceu a condescendência e apoio dos moderados – uma certa reconciliação.
3. Arrancaram os debates entre candidatos às eleições para o Parlamento Europeu. Segundo os estudos de opinião, os portugueses estão entre os que se revêm mais na Europa e até defendem mais integração. Mas, estranhamente, estão entre os que têm menos literacia ou conhecimento sobre o funcionamento das instituições comunitárias. Pior, as Europeias são vistas como umas eleições distantes e, por isso, são pouco participadas. Se para os analistas e para os partidos têm relevância para análise política e eleição dos seus dirigentes, as eleições europeias são da maior importância para a construção da Europa das Nações e para uma maior coesão europeia – emanam da Europa a maioria das regras e opções que implementamos no nosso dia a dia. Portugal continua a depender de fundos comunitários e é importante que os nossos representantes possam ser voz na defesa dos interesses nacionais e por isso a boa escolha de deputados é essencial.
A Europa comunitária, mesmo com as suas contradições e os seus defeitos, é a maior construção do “velho continente” no século XX, enquanto espaço de desenvolvimento social, económico e cultural. É também um extraordinário espaço de oportunidade, de crescimento, de conhecimento, de liberdade e democracia. E um espaço histórico de paz – nunca antes a Europa viveu um período tão longo sem guerras entre europeus.
Com a entrada de Portugal na União Europeia, o país transformou-se, sendo hoje um estado moderno, com níveis de desenvolvimento e prosperidade excelentes e com uma boa qualidade de vida. Com problemas, com desigualdades e fragilidades e longe de estar entre os mais desenvolvidos da Europa, mas com uma integração bem-sucedida. Por tudo isto, o debate das próximas semanas é da maior relevância.
O tempo e o poder são de ouro
“Afinal, se calhar, ainda era cedo para marcar o funeral do governo da AD.”