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Mais comboio, menos automóveis

Menos que Zero

Depois de muitas campanhas de sensibilização para a importância da utilização dos transportes públicos, os portugueses continuam a preferir usar o seu automóvel. Porém, começa a ser necessária muita imaginação para manter esta aposta. Por força dos impostos, os preços dos automóveis em Portugal são dos mais altos da UE, mas os portugueses tornearam a questão, importando viaturas usadas. Os combustíveis são igualmente caros, mas a malta vai atestar a Espanha ou põe o carro a gás. Os pneus custam cada vez mais, mas os condutores optam por marcas manhosas ou pneus em segunda mão, retirados de automóveis acidentados. Até as revisões nos concessionários da marca passam a ser feitas na oficina de um amigo ou na própria garagem. Resta o imposto de circulação, o seguro e a inspecção periódica, mas como aqui não dá para escapar, alguns tentam a sorte, circulando sem cumprir as regras. O pobre cidadão faz de tudo para continuar a usar diariamente o seu carrito, mas as autoridades estão apostadas em acabar com esta tendência. Por isso, para além de todos os impostos sobre o sector automóvel, lembraram-se ainda de instalar parquímetros em tudo o que é rua. É óbvio que o recurso diário à viatura própria está por um fio. E ainda bem, porque o ambiente e a circulação dentro das cidades precisam de mudar radicalmente.

Justamente para discutir o problema da mobilidade urbana, a rede Connected Cities organizou, na Covilhã, o seu 3º Encontro Internacional. As soluções preconizadas pelos especialistas são variadas, mas a melhoria dos transportes públicos e a aposta em transportes alternativos parecem ser consensuais.

A ligação Covilhã – Fundão é um exemplo do muito que ainda está por fazer para retirar algumas centenas de automóveis das ruas: os transportes públicos entres as duas cidades são caros ou então têm horários que não servem os interesses das populações.

No caso destas duas localidades, a solução poderia passar por uma melhor utilização do comboio. Para uma viagem que demora cerca de 18 minutos, com paragem em Alcaria e Tortosendo, bastaria uma automotora a funcionar em “vai-vem” nos períodos de maior procura. Evidentemente, teria de ser criado um passe social e as autarquias envolvidas teriam de articular o sistema de transportes urbanos com os horários dos comboios, mas o mais importante já existe: a infra-estrutura ferroviária. Dependendo da adesão do público, a experiência poderia ser alargada a outros concelhos, transformando-se numa iniciativa intermunicipal a concessionar futuramente a uma empresa privada. Promovendo a utilização deste tipo de transportes públicos intermunicipais, as pessoas tenderão a deixar os carros na garagem. Isto significa mais poupança, mais segurança e melhor ambiente.

Por: João Canavilhas

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