P – O “Y” começa amanhã. Quais as suas expectativas para esta quarta edição?
R – É saber, principalmente, como vai ser a correspondência entre o público e a mudança que se foi introduzindo ao longo destes quatro anos. Nos primeiros dois tivemos uma parte que se chamava “Y – Outras Formas” e a intenção era que, um dia, esse espaço fosse o próprio festival e apostar assim numa programação de arte contemporânea que ainda é um pouco deficitária na região. Estamos confiantes, porque este é o festival que gostaríamos de oferecer às pessoas e é uma opção claramente nossa, em termos artísticos, de nos dedicarmos a situações que não são as convencionais. Penso que o “Y #04” vai traduzir todo este trabalho dos últimos quatro anos, mas que também se reflecte nas nossas criações, porque o que gostaríamos é que a região fosse um marco no mapa das artes performativas contemporâneas em Portugal com espectáculos de diversos países.
P – Que aposta foi feita este ano?
R – Desde o principio que o nosso objectivo era ter todas as disciplinas artísticas e penso que o fizemos ao longo destes quatro anos. De qualquer maneira, e pelo facto de já existirem vários festivais de teatro na região, este ano procurámos ser diferentes nos espectáculos desta arte. A nossa aposta vai para a dança, as performances, o novo circo e para as formações através de exposições e debates. Até porque o festival também está direccionado para o espectador, na medida em que lhe proporcionamos o contacto com este tipo de espectáculos.
P – O “Y” estende-se também à Guarda e ao Fundão. Esta expansão solidifica o festival?
R – Apraz-nos que tenhamos conseguido um festival para toda a região, já que houve vontade e sensibilidade para que estivesse presente nas quatro cidades. Parece-me essencial que o “Y” tenha outros públicos, mas que haja também abertura para esta complementaridade de forma a dar outra visibilidade ao evento e à região.
P – O “Y” fazia falta na região?
R – Não é que seja mais ou menos importante, mas vem complementar toda uma série de eventos realizados pelas diversas estruturas da região. Se calhar, é o festival que marca mais a ruptura com todas as outras situações, sendo seu objectivo introduzir formas de arte que não são tão visíveis. Mas penso que todos são necessários. O importante é que o público tenha acesso a bons espectáculos.
P – Que implicações é que a falta de uma sala de espectáculos na Covilhã traz à Quarta Parede e às estruturas culturais?
R – Desde logo, limita a escolha de espectáculos. Há algumas propostas no festival que eram impensáveis serem representadas na Covilhã por causa da logística ou da falta de equipamento e condições. A única sala de espectáculo da cidade é o Teatro-Cine, que está totalmente desadequado, com uma teia de 50 anos e sem comodidade para espectadores e criadores. Por isso, optámos este ano pelo auditório do Teatro das Beiras que, apesar de algumas limitações, é neste momento a sala mais apetecível para os nossos espectáculos. A Covilhã será a última grande cidade da região a resolver este assunto e esperamos que não demore muito tempo, porque só vai marcar ainda mais o nosso atraso.
P – Ainda faz sentido falar do Centro de Artes neste momento?
R – Portugal não tem sido bem planeado em termos destas estruturas. Esta é uma região pobre em termos culturais, nomeadamente no que toca ao investimento das autarquias, e também aquela que tem mais analfabetos no país. Mas, felizmente, que algumas situações se foram alterando nos últimos anos, nomeadamente o esforço que a Guarda tem feito ao investir numa cidade cultural e cujo reflexo maior foi o TMG. É claro que continuo a defender uma sala bem equipada na Covilhã, onde os criadores possam trabalhar, mas penso que, antes de construirmos megalomanias, é necessário debater com os interessados qual a sala que a cidade precisa. Acho que será mais benéfico do que construir por construir por não termos nada.